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Notas caídas de Outono

Os governos da República e da RAM estão empossados. Um e outro insuflaram-se no seu tamanho. O da Madeira com acordo firmado com Albuquerque e Barreto, e o da República (desta vez sem “assinaturas”), com Costa a conseguir ganhar pela primeira vez umas eleições legislativas. No Outono caem as folhas caducas mas também as promessas. As regiões autónomas nada riscam nos governos de Costa. Nem os Açores pintados de rosa têm permissão de Lisboa para negociar directamente com Bruxelas e para continuar a engonhar os dossiers com Lisboa, o PM socialista cria agora um “conselho de concertação” para as regiões autónomas. Se Cafôfo deu tanto murro em Lisboa sem resultado, o Iglésias certamente vai reverencialmente desatar nós à cabeçada! Já os vejo borrados no rectângulo.

No actual elenco governativo madeirense, o CDS-Madeira é como aquelas moedas antigas, que tendo tido pouca cunhagem, tornam-se valiosíssimas aos coleccionadores por serem raras, ou por apresentarem um erro de produção. No caso em apreço aquelas preciosidades padecem de ambos os atributos. São duas secretarias regionais e a presidência da ALRAM – esta última – envolta em polémica, assumida por destacados militantes centristas, mas timidamente escalpelizada pelo meio jornalístico. Foi um preço alto? Claro que sim. Mas para o perigo de editar uma “geringonça regional de esquerda”, e assim irradiar a governação ziguezagueante da autarquia funchalense para toda a Região, vale bem pagar essa factura. Todavia aposto que a oferta do PS revelar-se-ia bem mais atractiva a alguns sequiosos centristas.

A tal obsessão e “amor” de Costa pela Madeira, não se reflectiu em escolher um madeirense para o seu novo governo, contrariamente ao que sucede com os Açores. Até porque Costa tem o maior governo desde 1976 e um dos maiores da UE, e como tal, poderia encaixar um qualquer “mercenário” numa portinhola do Terreiro do Paço para que ao menos lhe víssemos o sorriso polido iluminado pelo sol lisboeta desde a margem-sul. Aliás, justiça seja feita ao actual edil do Funchal – insuspeito “aprendiz de feiticeiro do PS” – que apontou oportunamente essa desconsideração de Costa. Todas aquelas viagens de abraços, elogios e saltinhos pueris no palanque da Madeira, não foram suficientes para acolher o ex-edil funchalense numa estrutura ministerial, que o poupasse do desgaste que vai sofrer em sede do parlamento madeirense, (gorada a ambição executiva) o mesmo local aliás, a que sempre se recusou comparecer quando solicitado, aquando da tragédia da árvore do Monte. Costa já não lhe reconhecerá competência? Estará contrariado pelo seu “petit-enfant” ilhéu não lhe ter pintado de rosa todo o arquipélago madeirense?

Uma última nota: de volta e meia o Funchal fica totalmente estrangulado na sua mobilidade aos fins-de-semana, por um ou outro evento desportivo ou até alguma “parada-gay” com umas trinta pessoas. O carácter pretensamente cosmopolita que se quer dar à nossa urbe, não se compadece com quem tem direito a desfrutar da cidade, ou sequer trabalhar e está dependente dos transportes. A vivacidade e o respeito da nossa cidade exige também que não se transforme sítios icónicos da mesma – como o magnânimo palácio-fortaleza de São Lourenço, um monumento nacional classificado – a paredes meias com a instalação dum mercado marroquino com umas tendas, num entrelaçado de cabos e tubos à vista de todos, sob o olhar petrificado de João Gonçalves Zarco à entrada da cidade. Para um município que tanta preocupação parece dedicar à cultura e património histórico edificado, este tipo de desprestígio que produz, parece passar à margem. A não ser que haja “atentados selectivos”, conforme a entidade que promove e/ou patrocina.