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Estão a ficar tontos...

Não sei como acabará esta novela. Mas constato que, ainda antes de consumado, já se afiam facas por aí

Com a chegada da democracia à nossa terra, muitas foram as alterações que se introduziram na vida das pessoas. As mulheres ganharam mais liberdade e conquistaram mais direitos que os nossos antepassados lhes reconheciam. É neste contexto que, a Ti Maria, vendo as suas filhas irem à procura de emprego e de independência, em vez da subserviência doméstica e uma agricultura de subsistência, não conseguiu acompanhar a evolução da sociedade. Por isso, reportando-se às filhas que emigraram e organizaram a sua vida, comentava:

- Não nasceram tontas, mas agora estão ficando...

Indo ao que interessa, é indesmentível que o último acto eleitoral regional foi diferente. Acabaram-se as maiorias absolutas. Nada de estranho numa democracia.

Antes de mais, é estranha a atitude do partido vencedor que, ainda não tinha terminado a contagem dos votos e já partira para uma negociação com o maior derrotado da noite eleitoral. De facto, quem andou a apregoar, durante mais de quarenta anos, ser o pai, o avô, o tutor, o encarregado, o responsável pela autonomia, essa jóia da coroa da Madeira, e acaba por entregá-la, como se um simples despojo fosse. De facto, o PSD ao entregar a presidência da Assembleia Legislativa Regional ao maior derrotado da noite eleitoral está a desvalorizar o cargo máximo da autonomia. A tal autonomia de que tanto diziam se orgulhar e avocavam como sendo os únicos responsáveis... O que é que mudou neste PSD? Os valores fundamentais? Os princípios por que se regem? Agora os valores e princípios passaram a ser a derrota do PS/Paulo Cafofo? ...que subiu a sua base eleitoral e viu mais do que triplicada a sua bancada parlamentar regional que passou de 6 para 19 deputados?

Por outro lado, vi o festanço que o CDS fez na noite eleitoral, após a derrota que se traduziu numa brutal descida da sua base eleitoral, com uma redução da sua bancada parlamentar de 7 para 3 deputados. Afinal, os seus figadais inimigos da véspera tinham-se tornado amigos e aliados.

A alegria esfusiante era devida ao telefonema com o convite para o “casamento”.

Não sei como acabará esta novela. Mas constato que, ainda antes de consumado, já se afiam facas por aí.

Será a evolução dos tempos? Julgava eu que os partidos pautavam as suas acções e programas eleitorais em conformidade com os princípios e valores que estavam consagrados nos seus estatutos de acordo com o modelo de sociedade que defendiam. Não! Afinal o que interessa é o exercício do poder. A qualquer preço. Vai daí para o vencedor o que interessa é a moça casadoira. O que interessa à “moça” é o dote do casamento.

Daí que fosse preciso arranjar ainda mais duas secretarias regionais, para fingir uma partilha de poder e todos viverem na ilusão de que tudo está em conformidade. Derrotados, mas detendo o que interessa: o poder!

Em termos políticos, não nasceram tontos, mas estão ficando! Subverteram os valores e os princípios.