Falta mão-de-obra na hotelaria?

Esta frase é das mais reproduzidas na imprensa associada ao sector e não só; será verdade? Para os empresários do sector, esta é a realidade que tentam passar para o exterior; A meu ver, NÃO, e com todas as letras maiúsculas.

Este sector, que é dos que mais contribui para a geração de riqueza neste país, é dos que pior paga aos seus trabalhadores. Na sua grande maioria (porque ainda existem raras exceções), os empresários hoteleiros, cada vez mais, procuram pagar o mínimo possível, para obter mais lucros. Recorrendo a “malabarismos” suportados por leis feitas “à medida”, EXPLORAM profissionais, havendo situações que quase se podem equiparar a ESCRAVATURA.

O recurso ao OUTSOURCING é uma constante neste sector, e tornou-se a forma fácil de obter mão-de-obra qualificada (ou não), com o mínimo de preocupação e encargos possível. Chamo-lhes a “mão-de-obra DESCARTÁVEL”, da qual fiz parte no início da minha carreira hoteleira. Com vínculos precários, horários variáveis, que podem atingir as 15 ou 16h por dia, tornam a vida destes profissionais uma verdadeira roleta russa. São dispensados quando a “operação” não justifica a despesa. Chega-se ao cúmulo de contratar chefias e gestores do sector através destas empresas que crescem como cogumelos.

Haja vergonha! Ao que isto já chegou.

Há situações em que empresas outsourcing foram criadas/compradas pelos próprios empresários do sector.

Dando como exemplo, os destinos sazonais, Algarve e Porto Santo; realidade que fez parte da minha vida profissional durante largos anos, saliento ainda outra situação GRAVE que acontece ano após ano; a realidade dos estagiários que caem nestes destinos para poderem concluir os seus cursos.

Desde alojamentos degradados, partilhados por dezenas de jovens a refeições sem o mínimo das condições desejáveis. Esta é a realidade por que passam rapazes e raparigas de tenra idade que viram no sector o seu futuro.

Recebendo uma bolsa progressiva que varia entre os 250 e os 300€, o que é no mínimo RIDÍCULO, laboram com a mesma intensidade que todos os outros profissionais das unidades onde estão a estagiar.

São “contabilizados” como mau-de-obra qualificada, quando deviam de estar a APRENDER e a preparar a sua entrada no sector.

Atingir um nível de vida digno em função do que auferem a grande maioria dos trabalhadores neste sector (€605), torna-se cada vez mais, algo impossível.

Vou dar um exemplo, baseado no dia-a-dia de um cidadão solteiro sem filhos que recebe o ordenado mínimo, como a grande maioria dos trabalhadores deste sector.

Façamos contas:

Habitação: €400

Transportes: €100

Alimentação: €150...

Saúde: Upssss...!!!

Já não chega, o salário não estica, mas as despesas, essas, estão sempre a aumentar.

Para quando legislar a sério e punir severamente alguns empresários do sector, que enriquecem desta forma e a cada dia que passa estão a destruir o grande destino turístico que o nosso país (por mais pouco tempo) ainda é?

Os profissionais existem, e muitos; mas estão a mudar de sector porque os salários e condições laborais se estão a degradar. A hotelaria começa a ser vista pelos mais jovens como uma carreira a não seguir no nosso país.

Paulo Sousa