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A antevisão

Muitos gostam de futebol e eu, adepto convicto, não sou exceção. Todavia não sou conivente com a “futebolização” do nosso espaço informativo.

O tempo que o futebol ocupa no plano informativo dos “media” nacionais (especialmente nos canais televisivos) é desproporcional face ao interesse que os portugueses manifestam no futebol. De acordo com o INE, 53% da população portuguesa é feminina e, creio, não será necessário qualquer estudo para nos dizer que a esmagadora maioria das mulheres não liga, não segue e, no limite, não se interessa por futebol.

Nada me move contra os programas televisivos que abordam o tema futebol, embora na maior do tempo falem de tudo menos do jogo e do desporto em si: arbitragens, processos judiciais, jogos de bastidores e temas que em muito se desviam do essencial. Ainda assim, tal como os jornais desportivos, quem deles gosta os consome.

O expoente máximo deste distanciamento entre algumas redações jornalísticas acantonadas e o “país real”, está naquilo a que se convencionou jornalisticamente chamar: a antevisão. A “antevisão” baseia-se em ouvirmos todas as semanas (muitas vezes nos clubes grandes este exercício é bissemanal) os treinadores de futebol a falarem sobre como esperam que vai ser o próximo jogo. É inevitável que por regra tenham quase sempre o mesmo discurso, pois pouco mais há a dizer do que “o jogo é difícil”, mas “queremos jogar para ganhar” e outras banalidades com direito a diretos nas rádios e televisões.

Uma conferência de imprensa, com dia e hora marcada é, por definição, um pseudo-acontecimento. E no caso em apreço, nada de verdadeiramente relevante se consegue apurar ou revelar para a opinião pública, especialmente se tivermos em conta que estas “antevisões” são constantes nas televisões, não raras vezes (repito) em direto.

O futebol entrou-nos pela casa adentro.

Nada me move contra o futebol de que tanto gosto, mas daí a assistir passivamente ao espaço absolutamente dominante que este espetáculo desportivo ocupa na Informação em Portugal, é tapar os meus olhos com as minhas próprias mãos. E para esse exercício eu não contribuo.

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