Análise

O que a Madeira espera do PSD-M

PSD contratou o autor da dívida para director de marketing. Isto é ‘pupulismo’

A esta hora, vai a meio o congresso do PSD, essas estonteantes ‘24 horas a discursar’ das quais irão sobrar mais palmas do que palmadas. É no que dá falar mais para fora do que pensar nos que estão dentro.

Alguns ainda esperam que o momento de catarse social-democrata possa ser fértil em novidades e em gestos democráticos, que haja o redobrado cuidado de criticar em vez de ofender e de falar verdade em vez de ficcionar. Outros ainda fazem figas para que os dirigentes com palco pensem menos em Paulo Cafôfo e mais em Miguel Albuquerque. Até porque por vezes há a sensação que o líder do PSD-M não é o candidato do partido. Aliás, Pedro Calado aparece mais e com melhor prestação, sem que ninguém vislumbre o efeito. Muitos ainda acreditam na vitória só porque nas ‘Regionais’ o partido nunca perdeu.

Perguntam-nos o que a Madeira pode esperar deste PSD-M? Acima de tudo que não seja ‘pupulista’ (e isto não é gralha). Que saiba ler os sinais deste tempo que passa a ritmo acelerado. E o último foi dado pela sondagem de ontem: face a 2015 há um recuo de 10 ponto percentuais e 5 a 6 mandatos estão em risco. É no que dá premiar perdedores num partido que na era Renovação decretou que os derrotados do passado não contavam para o futuro.

Que defina o rumo e os valores, com bases numa matriz ideológica e em princípios. O PSD não pode ser um vazio de ideias porque o único objectivo é ganhar a todo o custo e o que interessa realmente são os lugares que há para distribuir e não os problemas para os quais importa ter soluções e capacidade de resolução. Neste denso capítulo

tem havido deriva: a renovação miguelista durou pouco dando lugar ao jardinismo que, para além de nunca conseguir fazer esquecer, reabilitou-o em nome da reconciliação com o passado. Tem havido precipitação e a maior expressão do delírio é prometer coisas que não dependem da governação e obras ou serviços para os quais não há dinheiro. Tem havido expedientes manhosos, que fizeram do PSD um partido mais dado aos perfis falsos do que à frontalidade, um partido que ostracizou os competentes e que mergulhou no lago das incoerências, com nítida obsessão pelo branqueamento dos problemas locais, alegando que no continente está pior e propensão para exigir à República aquilo que a Região é incapaz de decretar.

Que para além de muitas moções que resultam por vezes de emoções e desejo de promoção tenha propostas estratégicas, porventura fracturantes, em relação ao futuro. Não basta fazer o diagnóstico e distribuir um kit bebé para superar o drama demográfico. Não chega o profissionalismo de médicos e enfermeiros para tornar o serviço regional de saúde funcional, respeitável e eficaz. De pouco valerá ter marketing se não tiver conteúdo.

Que defina bem que tipo de candidatos a deputados quer ter. Se os que garantem clientela ou os que são competentes. Se os que representam a população ou simplesmente a própria ambição. Que mostre e deixe falar os que, por enquanto, sussurram ou exorcizam os seus fantasmas nas redes. Que não faça batota à custa daqueles que hoje se encontram socialmente mais fragilizados, nem dê cabo de relações humanas, como fizeram aqueles que agora a cúpula reintegra.

Que tenha o bom senso de ter escrutínio apertado e permanente sobre os que deram cabo da Autonomia. São muitos os que não acham normal a distinção de quem deixou seis mil milhões de euros de dívida. Isso não foi desenvolver a Madeira. Foi hipotecar toda uma Região que é feita de gente farta de ‘pupulismos’, trampa que motivou perseguições, ditou falências, obrigou muitos a emigrar e alguns a dar cabo da vida.