Análise

O pecado de Rui Rio

Rui Rio foi à herdade do PSD-M dizer o que um político experimentado e obstinado com a ética não deve dizer. Veremos se tem coragem de o repetir noutros palcos menos festivaleiros. Na sequência da brasa da serra o líder do PSD fez uma série de declarações atabalhoadas que surpreenderam, não fosse Rio o homem das contas rigorosas da Câmara do Porto e o cidadão poupado e regrado nas finanças pessoais. Não foram poucas as ocasiões, no passado, em que o ex-autarca veio a terreiro aconselhar moderação aos sumptuosos gastos em que o país viveu mergulhado durante anos a fio. Houve até (os seus detractores) quem destacasse na altura, ironicamente, a sua costela-mor de contabilista (está inscrito desde sempre na respectiva ordem profissional) em detrimento das suas qualidades políticas. Porque político a sério gosta de obra para apresentar ao povo. Rui Rio nunca se importou com isso e os cidadãos da Cidade Invicta encarregaram-se de lhe dar razão nas sucessivas eleições em que se apresentou. Surpreendeu, por isso, o seu desempenho no Chão da Lagoa, mesmo que situemos o ambiente e o local da festa. Habituado a pensar pela sua cabeça, rendeu-se aos vapores da poncha que varrem o arraial, quando questionou: “Já imaginaram se em vez de um houvesse quatro ou cinco Alberto João por esse país fora?” Fora daquele recinto, os seus potenciais eleitores dar-lhe-iam a resposta no momento. A multiplicação de jardins equivaleria a pelo menos 35 mil milhões de euros de dívida oculta. O que é isso comparado com a colossal dívida do sector empresarial do Estado, cifrada em 27 mil milhões, dr. Rui Rio? Ou com a dívida global dos municípios portugueses? O que Rio veio à Região dizer é que o ‘crime’ compensa desde que haja betão para inaugurar e para encher o olho ao eleitorado. O “grande líder” regional, enfiado no meio da multidão, agradeceu a deferência e foi o grande protagonista do dia da festa do PSD-M, cada vez mais pobre e repetitiva na argumentação. Se dúvidas subsistissem ficaram desfeitas, de vez: o Chão da Lagoa não é para Miguel Albuquerque. O ‘fato’ não lhe serve nem lhe fica bem. O homem que quer conduzir por mais quatro anos os destinos da Região não consegue aproveitar, satisfatoriamente, o palco da serra. E contagiou o líder nacional que, virgem naquelas andanças, não foi devidamente aconselhado pelos companheiros insulares dos perigos que enfrentava em exceder-se em copos (mesmo que moderados, de poncha), que na herdade e ao calor do meio-dia surtem um efeito mais acelerado e duradouro. Provavelmente, não conhecerá a história, verídica, ocorrida há uns anos, da célebre rasteira passada por um conhecido ‘embaixador’ escocês, de sobrenome Walker, ao então festeiro Jardim, tendo-lhe causado danos consideráveis e de má memória.

O mesmo Rui Rio que na semana passada fez saber que vai penalizar as distritais do seu partido pelas dívidas da campanha das autárquicas, veio à Região sancionar o responsável político pelo ‘buraco’ da Madeira. Inevitavelmente, isto da política e dos políticos tem dias e tem momentos. O que é agora já não é daqui a pouco. Queixem-se, depois.

Com mais ou menos simpatizantes presentes o PSD-M, que apontou todas as setas ao “inimigo vermelho”, cumpriu calendário e foi vê-los (dos mais destacados, passando por adjuntos e assessores que pertencem ao aparelho da administração) marcarem presença e pousar para a foto, não fosse um olheiro de serviço lembrar mais perto de Outubro de 2019 que no ano anterior ele(a) não foi visto na herdade a bater palmas ao chefe. O Verão continua morno por estas bandas. Haja saúde!