Artigos

Manhassingadubaíbização

Até podia ser mais extenso o título mas, como desconfio que quem me controla também contabiliza esses caracteres, fico-me por aqui...

Não consigo muito bem compreender esta febre de querermos ser o que não somos. Aqui há uns anos, alguém queria construir a nova Manhattan, ali na zona do Toco, com muitos arranha-céus, marinas para barcos de gente com posses e habitação a custos nada controlados.

Depois veio outro alguém, a fazer a apologia de uma Madeira transformada em Singapura do Atlântico, promovendo certamente numa primeira instância a adaptação do espaço, com o respectivo débito de cimento em conformidade, para então depois tratar da questão do conhecimento que, esse sim, poderia ser o alicerce desta verdadeira utopia para uma população que conta sensivelmente 50% da sua população com menos do que o 9º ano.

Mais recentemente, outro alguém se propôs construir o Dubai na Madeira, julgo que provocado por um dia com excesso de humidade a toldar-lhe o raciocínio. Ou talvez não porque, aparentemente, a ideia vingou e vai para a frente, não só devidamente autorizada como bastante acarinhada, com parcerias a justificar mais uma intervenção que só os tolos não percebem quão caridosa e benéfica será.

Faltava, para compor o ramalhete, algo assim mais animado, para a malta mais nova que parece queremos começar a trazer para cá em detrimento dos que, com mais dinheiro, mais disponibilidade para viajar o ano inteiro mas muito menos “sexys”, por cá têm andado nas últimas décadas. É nessa altura que surge ainda outro alguém que sugere Ibiza, claro! Festas e mais festas, com uns rallies de participação patrocinada pelos impostos a realizar lá fora a promover esta nova lógica foi o que se advogou e alguém de certeza se vai encarregar de apadrinhar. Se é que já não apadrinhou...

A minha questão maior tem a ver com o facto de a maior parte destas ideias estapafúrdias – a adjectivação é minha e assumo-a por inteiro – vir de cabeças inteligentes, algumas delas bem preparadas e com ideias claras sobre o que querem para a Ilha onde vivem, quando com elas falamos em privado. O que se passa, então?

Não quero pensar que o pequeno interesse particular se sobrepõe ao bem maior; que os princípios que se proclamam em abstracto quando chega ao concreto da intervenção em causa própria já são passíveis de excepção; que as regras se devem aplicar, sim mas só aos outros. E quem manda e autoriza, que justificação terá?