Análise

Os delitos colectivos

O debate em torno do ‘Estado da Região’ permitiu perceber a existência de um preocupante conflito de interesses entre eleitos e eleitores. Da troca de argumentos ficou claro o divórcio, que um inquérito feito na nossa plataforma digital bem documenta. Os anseios de um povo não se compadecem dos clientelismos dominantes.

Por muito que a economia cresça “há 59 meses consecutivos”, feito que o desemprego persistente desmente, não há motivos para desbaratar conquistas, a menos que haja dinheiro de sobra, não se sabe onde, para pagar tudo o que está em marcha de modo a ser inaugurado antes das eleições.

Por muito que seja preciso injectar milhões na economia, nada justifica a falta de transparência até que se descubra a causa das coisas. Vá lá que ficou claro que trabalhos a mais, obras a menos e terrenos por entregar são as probabilidades de justificação para aquilo que se sabe, toda a gente vê e alguns fingem não ter importância no recomendável equilíbrio de forças.

Por muito que seja eloquente a promessa de redução a carga fiscal, esmola face à qual qualquer contribuinte escaldado mostra desconfiança, é uma chatice para a população ver o dinheiro dos seus impostos nem sempre bem empregue, com quem manda e seus cúmplices a trocar aquilo que é prioritário e básico por caprichos e futilidades.

Por muito que uma sondagem legalmente realizada até dê melhor resultado do que o esperado, nada justifica a arrogância expressa em comentários desprovidos de bom senso democrático.

Por muito que a segurança das pessoas esteja em primeiro lugar, não custa nada informar os cidadãos antes de cortar árvores a eito.

Por muita renovação do ar que tenha sido feita para envernizar o relacionamento institucional entre os diversos órgãos de governo próprio, não há “salto qualitativo” que resista à propensão crescente para condenar cidadãos por “delito de opinião”.

Um sinal inequívoco da mediocridade do Estado da Região é a tentativa desesperada de calar a diversidade de opiniões. Não é a primeira vez que os colaboradores do DIÁRIO são intimidados a esse nível. Mas não devemos consentir o regresso ao passado, à era da dívida colossal, que deixou diversos expedientes vergonhosos, manobras que atentaram contra a democracia e mancharam o jornalismo; que instituíram cunhas e borlas, insultos e preconceitos; que obrigaram a obediências cegas e incompreensíveis; que governamentalizaram instituições e muitos dos mais influentes; que expropriaram liberdades individuais e adiaram uma cidadania sem medo de dar a cara e a palavra; que geraram défices democráticos e pressões abusivas, estratégias que comprovam a ausência do dever de abstenção por parte do Governo, a ânsia tresloucada do poder desgastado em tudo controlar sem ouvir ninguém, devaneios que chegaram a corromper as relações.

Se este tipo de atentados continuar é lógico que nas próximas ‘Regionais’ mais de uma dezenas de forças partidárias disputem o voto ao segundo. Para que seja reposta a normalidade, esperemos que rumo à excelência. Basta escolher os mais capazes, alguns deles hoje errantes nas margens que os poderes criaram.