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As Razões pelas Quais o PSD-M vai perder em 2019

Antes de mais, deixo bem claro o seguinte: sou social-democrata convicto.

Acontece que, por culpa que é exclusivamente minha, para além de social-democrata, tenho os pés na terra. É que ser social-democrata convicto e ter os pés na terra são duas características cujo exercício simultâneo está proibido nos tempos que correm, pelo menos na nossa Região.

Não prescindo, contudo, da cada vez mais suicida tomada de opinião livre, pelo que acredito que se tudo se mantiver como está, não prevejo sucesso para o PSD-M em 2019.

Desde logo porque o passado tem sido o argumento para o futuro ou, pelo menos, para manter viva a esperança de que um futuro existirá nos moldes atuais. O PSD-M é bom porque fez obra.

Porque ligou a Região entre si. Porque fez avultado investimento na melhoria das condições de vida da sua população. Ora, apesar de inteiramente verdade - e nós, social-democratas, devemos andar de cabeça erguida sabendo que se fosse por outro partido qualquer sabe Deus onde estaríamos hoje - utilizar este tipo de argumentação em todas as situações e mais algumas é um erro tremendo. A argumentação com base no passado torna claro e óbvio que no presente pouco se fez para merecer a vitória nas eleições que se avizinham. Um autêntico tiro no pé.

De seguida, porque pura e simplesmente não se tem valorizado os militantes pelo seu mérito e competência, mas apenas e só pelos votos que trazem ou pelas vantagens estratégicas que deles advêm enquanto aliados. Esta triagem começa bem cedo, na JSD, e parece que se agrava quando se chega à elite partidária. O prejuízo deste modus operandi reside no afastamento dos militantes que podem trazer qualidade e competência ao partido e que são criteriosamente afastados ou deixados para segundo plano até perceberem por si próprios que ali não são bem-vindos.

Se antigamente era possível selecionar os militantes ativos consoante as vontades, hoje, obviamente, não o é. Ou melhor, até é, mas as vicissitudes de tal seleção não são as que eram no passado, algo que o partido ainda não percebeu.

A juventude, que podia e devia ser a maior das virtudes de qualquer partido, acaba por ser desvalorizada, apenas merecendo destaque em altura de campanha, para fazer número e abanar bandeiras, mas nunca chamada para ser devidamente ouvida sobre questões de importância acrescida para os jovens nos diversos concelhos que compõem a Região. Pelo que os jovens militantes sentem também que o partido não está com eles, mas sim o contrário e, desiludidos, vão ficando pelo caminho, afastando-se da política.

O mais grave, no meio disto tudo, é a sensação, sempre presente, de que o líder do partido chegou ao seu limite. Manuel António, Pedro Coelho, Pedro Calado, entre outros nomes, são trazidos à mesa por diversas vezes precisamente por essa razão. Miguel Albuquerque reúne em si duas características tão extraordinárias quanto bizarras: foi a renovação necessária que porém nunca chegou a acontecer.

Longe vão os tempos em que um homem falava e os outros tremiam. A política regional de hoje é muito mais complexa e os partidos têm de se adaptar a essa realidade, aceitando-a e moldando-se à sua figura. Tendo plena consciência de que o desgaste que advém de uma governação de 40 anos terá de ser tido em conta na equação. E que a culpa disto até pode nem ser de Lisboa, imagino eu.

A verdade é que ainda há esperança, mas é preciso corrigir as coisas agora, com a ajuda de todos.

O PSD tem de se renovar com o PPD. Tem de redescobrir o seu povo, os seus jovens, os seus emigrantes e todos aqueles que vivem e sentem a Região. Sem folclore. Apenas com competência e dedicação à causa pública.

Confesso que, com os pés no chão como de costume, temo que a viragem política que se avizinha, baseada em investidas políticas travestidas e no populismo sem obra visível, na qual um partido político aceita servir de aguadeiro para que um outsider divino possa governar - como que afirmando que no seu seio ninguém tem capacidade para tal -, traga um clima de instabilidade e vingança, sobretudo nas relações entre o governo e as câmaras municipais e respetivas juntas de freguesia, em grave detrimento da população. Temo, sobretudo, que essa viragem faça com que o PSD-M de hoje pareça um oásis num deserto daqui a uns tempos.