Artigos

Aceitar arriscar

Com o inicio da puberdade e à medida que a adolescência se aproxima começam a surgir novos desafios

A comunicação entre adultos/educadores e adolescentes apresenta, em determinados contextos, dificuldades que, em cadeia, criam zonas de conflito muitas vezes difíceis de superar.

Se há, essencialmente nos contextos familiares, quem deseje eternizar a infância dos filhos recusando aceitar o inevitável crescimento, no contexto educativo espera-se muitas vezes que num corpo e cabeça de adolescente surja uma atitude de adulto estereotipado.

No infantário, os educadores sentam-se no tapete e usam estratégias e materiais educativos que estimulam e agradam às crianças, baixam-se muitas vezes para falarem com elas e utilizam uma linguagem que facilita o diálogo e a interação. As mesas diminuíram de tamanho e acompanham-nas no crescimento. Na pré mantém-se o respeito pelo nível de desenvolvimento e tem havido cada vez mais um esforço em adequar os níveis de comunicação ao nível de desenvolvimento e características das crianças.

Na entrada para o primeiro ciclo começam a surgir as primeiras dificuldades, ou seja, ajustar a aprendizagem aos níveis de desenvolvimento e maturidade das crianças e cumprir com sucesso os programas pedagógicos e curriculares mantendo bons resultados nos rankings. O stress e nível de exigência que emerge desta atitude expande-se da escola para as relações familiares prejudicando a comunicação e consequente o espaço para um crescimento mais saudável e mais abrangente.

Com o inicio da puberdade e à medida que a adolescência se aproxima começam a surgir novos desafios que exigem adaptações mútuas. Fico às vezes com a sensação de que, por nostalgia ou medo do confronto, alguns educadores, pais ou professores, preferem ignorar as especificidades desta etapa esperando que de forma rápida e eficaz dê origem a qualquer coisa que se aproxima da idade adulta. Talvez as vivências/memórias dos adultos na sua história de vida oscilem entre o fascínio e a consciência da vulnerabilidade inevitável. Há muitas adolescências inacabadas.

Os adolescentes ainda não são adultos estão na pré. Como tal, é preciso voltar a ajustar mesas e cadeiras e falar ao nível do que é possível compreender. Não ter medo de errar, dar tréguas aos altos níveis de exigência, despir preconceitos, assumir responsabilidades partilhadas e, como a adolescência nos ensina, aceitar arriscar.