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A “boa educação” e o “politicamente correcto”

Há uns dias discutia-se, no Festival Literário da Madeira, a diferença entre boa educação e politicamente correcto. Embora haja obviamente uma sobreposição entre os dois conceitos, as diferenças são tão óbvias que não me parece útil entrar nesse campo. Serve isto para dizer que me obrigo a ser educado, mas não sinto a necessidade de ser politicamente correcto.

Esquecendo-se, como é habitual, da necessidade de manter a compatibilidade entre os guias intérpretes madeirenses que aqui exercem a sua actividade e os guias intérpretes do continente que aqui vêm trabalhar, veio o governo regional legislar sobre esta matéria, obrigando à existência de “certificação” regional.

Primando pela incompetência – para não lhe chamar má-fé – vem a tutela defender que se trata de criar um ambiente mais equitativo, e de proteger o bom nome e a qualidade do destino. Mas resolveu “legalizar” toda uma série de absurdos que vinha permitindo ao longo dos anos, ao mesmo tempo que completou um frete aos empresários de turismo: aumentou o tamanho máximo dos veículos que podem circular sem guia, desta forma desvirtuando o princípio da proximidade e disponibilidade do profissional de informação.

Chegou-se mesmo ao desplante de entre o rascunho e a publicação aumentar este limite de 19 para 21 pessoas (parece que um empresário tinha acabado de comprar uma série de carrinhas deste tamanho...). Foi também dado o prazo de um ano para que “todos” cumprissem o disposto na portaria.

Este ano acabou. E as inspecções, prometidas ao longo de todo um ano, teimam em não acontecer. E continua o processo de bastardização do turismo na ilha, minando a fiabilidade da informação veiculada.

Gostava de recordar à tutela que o regime vigente tem os dias contados, e que pode acontecer que o próximo tenha menos rabos-de-palha. E que tendo menos rabos-de-palha possa dar-se ao luxo de moralizar um sistema que prima pela obscuridade. E de regressar à história: a mulher de César não tem apenas de ser virtuosa, tem também de parecer virtuosa – e este sistema promíscuo não é nem uma coisa nem outra.