Análise

‘Improviso Tours’

Um governo que se torna promotor e comentador de viagens só compra problemas

O Governo, a oposição, a douta mas nem sempre fundada opinião e os demais: estão todos convocados para aprender com aqueles que por mérito e talento, trabalho e empenho, não nos envergonham. É que chega de improviso, remedeio tão eloquente por estes dias, que nos leva à incontornável conclusão que tudo em que os decisores regionais, e alguns camarários, se metem dá confusão.

Como poucos acham isto estranho, lá vamos ter que lembrar o embuste com assiduidade, mesmo que sejamos incomodados com as ameaças do costume e uns novos expedientes caluniosos. Até às eleições, entre festas e arraiais, jantaradas e encontros à porta fechada, muita da lucidez colectiva deixar-se-á embrulhar pelas canções de embalar, com aquela sonoridade comercial que conquista júris, mesmo que tresandem a plágio, despertem a ira dos ressabiados e motivem o reparo dos críticos.

Os simples tubos para as colheitas de sangue faltaram não porque os aviões foram impedidos de aterrar no aeroporto da Madeira. Antes por não pagamento atempado aos fornecedores que, escaldados de calotes governativos, ditam regras que não sendo respeitadas geram rupturas.

Os voos charter quando lançados com devida antecedência enchem num ápice porque há procura crescente, interessada em viagens a custos considerados justos e adequados. Tudo o resto, bem mais importante, porque estrutural, deve ser pensado por quem sabe e não por quem quer ganhar eleições a qualquer preço, mas com dinheiro público.

Importa assumir culpas com determinação, pois esse será um caminho para uma emenda eficaz, sem ter a tentação de redistribui-las por terceiros que por vezes são chamados a salvar a pele dos primeiros, mas que, em segundos, passam a carregar responsabilidades alheias com custos inimagináveis. Perguntem como foi aos que operando no ‘catering’ faliram a servir banquetes partidários.

As brigas e tormentos que os CTT compraram à conta do burocrático processo de reembolsos ditados pelo subsídio de mobilidade que tarda em ser revisto; as calúnias que se generalizaram sobre as agências de viagens só porque algumas se limitaram a abrir portas para vender 10 passagens a estudantes enquanto outras deram preferência aos seus clientes; as vergonhas porque passam os intermediários ou facilitadores que tentam agilizar negócios de interesse comum devido à impreparação dos governantes e propensão destes por dar o dito pelo não dito; o ódio cultivado a grupos económicos que geram oportunidades, emprego e riqueza que comprovadamente fica na Região acentuam a vontade de fuga desta ilha que complica o que é fácil.

Enquanto que em diversos sectores que deviam cuidar do bem comum houver défice de competência e excessiva exposição à influência interesseira, a gestão da coisa pública não passa de uma atabalhoada excursão de gente preocupada com as aparências mesmo que nunca chegue ao destino prometido.