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Promessas, queques, húbris e ética

Vivemos um momento singular. Temos um Governo Regional moribundo. Uma saúde de rastos, uma economia fortemente condicionada pelos custos das operações portuárias, que funcionam em regime de monopólio protegido.

Miguel Albuquerque passeia, teoriza, verbaliza. Pedro Calado reúne, realiza, executa e, mais subtilmente, lança as obras e transfere milhões para instituições falidas, como os recentes 32,8 milhões para as Sociedades de Desenvolvimento. Suponho que o primeiro (coadjuvado pelo segundo) ainda não percebeu que já não consegue meter a igreja dentro da “sua capela”, e que está de passagem. O real e o circunscrito governo encontra-se na vice-presidência. Aliás, a história regional, do pós-regime autonómico, regista que, sempre que é preciso acelerar as obras, renasce uma vice-presidência.

PROMESSAS.

Na política, nem sempre o calculismo prevalece. É preferível ser sincero e honesto com os cidadãos, com os eleitores e com a população em geral.

No Funchal reina um misto de promessas, de palavras, de compromissos, de disponibilidades.

Não vejo nada contra o princípio natural da ambição, que considero inteligível e admissível na curta esperança da vida.

Apenas estabeleço reticências quando se diz não e depois se afirma talvez, para ficar no sim. É preciso frontalidade: o povo entende se o desejo é sentido, assumido e concretizado.

“QUEQUES”.

No regionalismo madeirense “queque” é sinónimo de beto, de menino geralmente pertencente ao meio abastado, viva na República ou nas terras autonómicas do atlântico português. Recentemente, um “queque” não executivo intentou estabelecer alcançada pressão, como se de uma agência insular da República se tratasse, pressupondo futurologicamente que o “new socialist group” já governa e expressa “governamentalizar os outros”. Aviso. Este JPP governa-se. Mas não se deixar governar. Ponto final.

HÚBRIS.

É uma espécie de desordem da personalidade associada ao exercício do poder. A síndrome encontra-se cientificamente estudada, nomeadamente pelo médico inglês David Owen (Hubris syndrome: An acquired personality disorder, Oxford Academic). A “patologia”, segundo Owen, tem sido detetada em inúmeros líderes políticos e manifesta-se por uma preocupação extrema com a imagem, tendências messiânicas e perda de contacto com a realidade. Pelos vistos, a “hubridez” também me pode bater em “casa própria”, nem que seja por alguns cartazes por aí expostos....

ÉTICA.

Mesmo ao espelho observamos melhor os outros. José Manuel Rodrigues, do CDS, na reconquista da liderança, vê no JPP um suscetível retorno à personificação de um-só. Talvez esteja a ver apenas alguns cartazes. Tem que consultar os restantes. Nem que seja pela invocação da húbris.

A política sem debate aceso, sem crítica, sem argumentação é uma chatice. Mas sem ética é uma vergonha. Nunca é tarde relembrar que um parlamentar do CDS, suscetível de se servir do público de manhã e à tarde do privado cai, às vezes, na tentação de chegar ao cliente, pelos passos perdidos. Não estou a referir-me ao colega que muito prezo José Manuel Rodrigues, é óbvio. Para que conste, votar de manhã favoravelmente um requerimento para uma auditoria ao passivo ao antigo Jornal da Madeira, e à tarde servir o senhor governo regional na tentativa de obstaculizar essa mesma auditoria, é no mínimo servir-se escandalosamente de um parlamento para engordar a carteira (de clientes).