Análise

Regionais 2019 e saúde silenciadora

1. Está tudo orientado para que Paulo Cafôfo seja o candidato da esquerda às eleições regionais de 2019. O autarca do Funchal, mais aclamado no congresso do PS do passado fim-de-semana do que o próprio líder eleito, tem a oportunidade de abrir um novo ciclo político na Região e, pela primeira vez, mostrar que os partidos de esquerda podem liderar governos na Madeira. A receita funcionou para a Câmara do Funchal e pode ser replicada no plano regional. Arredar do poder um partido, o PSD, habituado a liderar, com maioria absoluta desde 1976, é o grande desafio de Cafôfo. Ele garante que o seu foco e plano de acção mantém-se nos Paços do Concelho, mas é óbvio que a gestão camarária está cada vez mais depositada nas mãos do vice Miguel Silva Gouveia e da restante equipa.

O PS-M, pragmático e oportunista, saído do último congresso está a pressentir a ocasião de alcançar o poder daqui a dois anos, apostando, para isso, todas as fichas no “independente” Paulo Cafôfo e na sua capacidade de atrair eleitorado. Com o PSD a falar a várias vozes, a responder aos adversários 24h depois dos acontecimentos, fragilizado internamente, com estudos de opinião pouco favoráveis, o PS sente o poder acessível, coisa que nunca aconteceu em 40 anos de jardinismo absoluto. A esquerda pode ter, na Região, a possibilidade de governar em coligação, caso, mais que provável, do PS não alcançar uma maioria absoluta, em 2019. Tal como aconteceu na República, poderá entender-se com os partidos que lhe confiram a maioria parlamentar, gerando uma geringonça regional. O secretário-geral do PS, António Costa, percebeu isso, fomentando desde então um bom relacionamento com o presidente da Câmara do Funchal, preterindo publicamente o antigo líder, Carlos Pereira, removido agora de cena.

As conjunturas para 2019 são admissíveis em diversos cenários, até numa hipotética aliança de direita, que permita a um PSD-M recentrado, com ou sem Albuquerque, manter-se no governo. O povo terá a responsabilidade de escolher o que para si é melhor e o que melhor se adequa. Não é suficiente constatar o óbvio, dizer que a saúde está de rastos e que é imperioso uma baixa da carga fiscal para as famílias, combinado com muitos sorrisos e palmadinhas nas costas. É preciso mais. Propostas, projectos, saber como e quando fazer. O tempo das goleadas eleitorais acabou.

2. A saúde é uma das áreas mais expostas porque mexe com aquilo que há de mais importante na vida. Os casos que diariamente vêm a público, denunciando a falta de medicamentos, a longa lista de espera para cirurgias, o caos que se vive no Serviço de Urgência em muitos dias – revelado por médicos e enfermeiros que lá trabalham – fazem com que o sector, aqui ou noutro lado qualquer, esteja sobre apertado escrutínio. Normal. O que foge à normalidade é o Governo insistir que a saúde na Madeira está bem, que existem “falhas pontuais” e nada de maior relevo. Provavelmente na Coreia do Norte dir-se-á que o sistema de saúde é o melhor do Mundo, mesmo que existam milhares de pessoas sem acesso a ele. Mas aquele país é uma ditadura, convém lembrar.

A semana passada um vogal da Comissão da Dissuasão da Toxicodependência foi retirado do cargo pela tutela por não possuir currículo para a função. Um ano e tal depois da nomeação a mesma Secretaria da Saúde chegou àquela conclusão. Uns dias antes esse vogal criticou o actual sistema de saúde, publicamente. Ele que trabalha no SESARAM desde 2007 deve saber do que fala. O ‘patrão’ não lhe perdoou a façanha. Mesmo não o desmentindo, removeu-o, uma vez que a tentativa de mordaça prévia não resultou. É assim que vai a nossa política de saúde. Come e cala, diz o senhor Governo, recuperando técnicas antigas de má memória, em que primeiro se amedrontava, depois se perseguia e por fim se ostracizava e bania quem ousasse pensar diferente. Como se isso resolvesse algum problema estrutural do sector.