Análise

‘Muita parra, pouca uva’

No próximo dia 1 estará em jogo a definição do mapa político da Madeira

1. Estamos a entrar na fase decisiva da campanha eleitoral para as autárquicas de 1 de Outubro. Uma época historicamente marcada pela feitura de promessas, anúncios diversos, muitas vezes vagos, combinados com truques comunicacionais mais ou menos atrevidos para convencer o eleitorado, que é cada vez menos incauto e que – já demonstrou - sabe separar o ‘trigo do joio’. Os candidatos têm menos de um mês para fazerem valer ao que vão. Têm de trilhar o caminho que considerarem o mais consentâneo com as políticas que defendem e não com a tendência mediática circunstancial.

Até aqui, salvo honrosas excepções, temos assistido um dormente debate de ideias, com pouca consistência política, muitas tricas, muito acessório à volta de cartazes e, pasme-se, até dos dentes de candidatos. Em resumo, ‘muita parra, pouca uva’ para preencher a agenda com iniciativas esforçadas e que registam pouca adesão popular. O tempo em que a manipulação deliberada, a distorção de factos, o lançar da confusão faziam caminho é passado. Sabemos que aqui e ali há tentação para as designadas ‘campanhas sujas’, que proliferam mais do que se possa imaginar, sub-repticiamente. Mas não vão longe.

Hoje as campanhas são mais profissionais e menos voluntaristas. Empresas de comunicação exploram um nicho apetecível, apresentando ‘experts’ em diversas áreas, da assessoria de imprensa à estratégia política, passando pela imagem dos candidatos e à tentativa de condicionamento da agenda da comunicação social. Isso, por si, não é suficiente.

No próximo dia 1 estará em jogo a definição do mapa político da Madeira. Joga-se não só a liderança das câmaras municipais, mas também a da associação dos municípios (AMRAM) e do próprio Governo Regional, em 2019. Não se pode dissociar uma coisa da outra. Se o PSD vencer a AMRAM e recuperar autarquias perdidas, poderá respirar de alívio. Se, pelo contrário, perder, dará início ao processo de renovação de liderança, já na madrugada do dia 2 de Outubro.

2. A queda da árvore no Monte, a 15 de Agosto, que ceifou 13 vidas e feriu 50 pessoas, será motivo suficiente para alguma candidatura do Funchal perder votos? Beneficiará outra? Não é expectável. O efeito será residual. Basta olhar para o que aconteceu com os incêndios no centro do país, que provocaram um número elevado de mortos. O Governo de António Costa esteve sob apertado escrutínio e críticas demolidoras por parte do PSD, mas as sondagens vieram revelar que a perda de popularidade não foi significativa. Outro dado revelador: o líder da oposição, Passos Coelho, não teve retorno da série de afirmações (umas não confirmadas, é certo) que produziu durante o calor do debate.

Vamos aguardar que as ideias surjam, que os planos (concretizáveis) também. Quanto ao resto, aquilo que designamos por ‘espuma’, os eleitores responderão, calma e ordeiramente, no dia 1 de Outubro.