Análise

Gestão da saúde profissional

A bastonária da Ordem dos Enfermeiros voltou, de visita à Região, a por o dedo na ferida, juntando-se ao coro de críticas que se adensam há tempo demais, para que alguma atitude já tivesse sido tomada. Pela enésima vez mais um responsável relembrou: o hospital dos Marmeleiros é um perigo para a segurança dos doentes e de funcionários. A nível do controlo das infecções, vai contra todas as normas. O edifício está decrépito, quase tudo está a ruir, a cair de podre. Uma vergonha e um tormento para quem não tem outra hipótese de internamento. Uma aflição constante para quem tem familiares naquelas condições. As denúncias são diárias. Todas a descrever falta de condições mínimas, dignas para quem está fragilizado pela doença.

Mas a realidade nua e crua diz-nos que não existe alternativa. O novo hospital só será uma realidade, na melhor das hipóteses, em 2024/5, isto se não esbarrar nos habituais atrasos que caracterizam as obras públicas portuguesas. Até lá haverá ‘Marmeleiros’ e dores de cabeça para quem precisar dele.

Numa terra onde se apostou indiscriminadamente no betão e em equipamentos prescindíveis, que não servem rigorosamente para nada, descurou-se este aspecto fundamental, o da Saúde. E no sector há muito corrigir e a mudar. A gestão tem de ser feita pelos melhores e mais capazes e não por quem pertence a este ou àquele partido. Actualmente o SESARAM já esgotou o orçamento previsto para a farmácia hospitalar. Os 30 milhões destinados, este ano, para a importante divisão já foram consumidos. Até ao final do ano vão ser necessários, pelo menos, mais 10 milhões. De onde virão? O Governo dispõe dessa verba, essencial para os tratamentos em curso e para os que hão-de surgir? Estamos perante um problema orçamental decorrente de necessidades prementes e inadiáveis ou perante actos de má gestão? Infelizmente é comum serem noticiadas falhas na disponibilização de medicamentos na farmácia hospitalar. Ainda recentemente um doente com esclerose múltipla viu-se privado de um importante fármaco. Esta é uma das áreas mais sensíveis da sociedade. É incompreensível e aterrador chegarmos ao ponto de o Estado não conseguir garantir a terapêutica indicada para determinada patologia. O Governo não terá outro caminho que não seja a de reforçar o orçamento do SESARAM e rapidamente. Caso contrário surgirão as rupturas e as consequências nefastas para os doentes.

O sector tem estado mergulhado em polémicas e desavenças que envolvem médicos, enfermeiros, chefias e sucessivas administrações. É urgente optimizar recursos, (re)dignificar os recursos humanos e profissionalizar a gestão hospitalar. A destruição de competências perpetrada há não muto tempo deve dar lugar a um novo tempo. Para bem dos doentes e dos contribuintes.