Análise

Por uma nova consciência animal

Perante a lei os animais deixaram de ser considerados ‘coisas’. Desde o dia 1 de Maio passado têm regime jurídico próprio. São seres vivos dotados de sensibilidade, que sentem a dor.

A norma legal existe mas não é cumprida. As violações são ao ritmo diário. Muitas arrepiantes. No país que se mobiliza contra as touradas é frustrante receber notícias sucessivas que relatam abandono, maus-tratos e morte de animais domésticos. É revoltante verificar que muitas pessoas, provavelmente algumas que se cruzam connosco diariamente, praticam, intencionalmente ou por negligência, violência sobre seres que de si dependem exclusivamente.

Há não muitos anos era frequente vermos cães acorrentados nos quintais das casas. Eram alimentados com os restos que sobravam das refeições dos donos e pernoitavam em casotas de madeira, num recanto do jardim, fizesse frio ou calor. Raro era o animal de estimação que tinha um boletim de vacinas ou ia ao veterinário, quando apresentava sinais de doença. Atualmente tudo evoluiu, as regras são outras e os animais racionais, que somos nós, têm de se mentalizar que ter um bicho em casa é como ter um filho. Tem de se lhe prestar assistência, garantir o seu bem-estar e o acesso a cuidados médicos-veterinários. Quem não o fizer pode sofrer sanções, ir a tribunal e ser condenado a pena de prisão, caso se prove que infligiu dor, sofrimento ou quaisquer outros actos que resultem em sofrimento injustificado, abandono ou morte.

Na semana passada, humanos despojados de sentimentos não se coibiram de atirar três cachorros para o interior de uma associação animal da Região. Três vidas foram jogadas para um recinto onde deambulavam cães adultos, que não demoraram muito a aniquilar os pobres ‘invasores’. Para além de cruel, a atitude daqueles bárbaros é crime.

Em época de férias aumentam exponencialmente os relatos de casos de abandono, provando-se a forma desumana, interesseira e descartável como muitos encaram a vida de seres vivos dependentes.

É tempo de as autoridades competentes agirem com mão pesada junto dos que violam a lei e de o cidadão anónimo denunciar situações abusivas, que configurem crime. Não basta existir a lei. É preciso agir.

Não nos podemos demitir dos nossos deveres de cidadania, nem sermos indiferentes, por uma nova consciência animal. A evolução civilizacional exige um novo comportamento colectivo, que corte pela raiz com atitudes intoleráveis com os padrões de vida actuais, que promovem e bem o direito dos animais.