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“Os Rapazes dos Tanques”

Jamais perceberei porque o regime fascista e ditador de Jardim e os “yes man” do PSD na ALR, preferiram, todos estes anos, comemorar o fracasso do golpe militar de 25 de Novembro de 1975

A madrugada fria de 25 de Abril de 1974 iria mudar o curso da história em Portugal e libertar-nos de um longo e tenebroso período de fascismo. Naquela memorável madrugada uma coluna de blindados composta por 244 militares saia de Santarém sob o comando do capitão Salgueiro Maia rumo ao Terreiro do Paço, em Lisboa, numa aventura que lhes poderia custar a vida, a prisão ou a deportação.

Ainda em Santarém, Salgueiro Maia, depois de anunciar qual o propósito da marcha sobre Lisboa, consciente do perigo que os aguardava, ainda esclareceu os homens sob o seu comando que tinham a opção de ir ou ficar mas todos, uns pela sua juventude irreverente outros pelo espírito de aventura e outros por nem saberem ao certo ao que iam, optaram por ficar e assim os seus nomes ficarão para sempre ligados ao grande acontecimento histórico, a “Revolução dos Cravos”.

Chegados à Praça do Comércio, Salgueiro Maia ordenou que os canhões dos blindados fossem apontados ao Ministério do Exército onde estavam reunidos os Ministros do Governo. Todavia, pouco depois, foram cercados por uma coluna de blindados do exército composta por carros de combate M47 (lagartas) com forças fieis ao regime, esta com um poder bélico muito superior ao dos revoltosos e comandada pelo Brigadeiro Reis o qual ordenou ao Alferes Soto Maior que abrisse fogo contra os revoltosos, porém o alferes recusou-se a cumprir tal ordem e foi-lhe dada, imediatamente, voz de prisão. Não obstante o Brigadeiro apontou a sua “Walter” à cabeça do Cabo Costa ordenando-lhe que disparasse mas como o Cabo se recusou alegando que não sabia manejar as armas do blindado o Brigadeiro Reis sentiu-se desautorizado e debandou evitando-se assim um banho de sangue em plena baixa da Capital.

Ultrapassado este episódio onde o sucesso da revolução esteve por um fio, Salgueiro Maia ordena uma marcha até ao Quartel do Carmo e num curto espaço de 5 minutos as portas abriram-se sendo, nesse momento, dado voz de prisão ao chefe do Governo, Marcelo Caetano cuja única condição que impôs foi a de entregar o poder a um oficial General.

Enquanto acontecia a capitulação de Marcelo Caetano e a rendição dos militares da segurança do Ministério do Exercito os ministros aproveitavam para escavar um buraco na parede das traseiras do edifício por onde escaparam sorrateiramente.*

Sendo este o acontecimento que implantou um regime democrático em Portugal, permitiu eleições livres e ofereceu a Autonomia à Madeira, jamais perceberei porque o regime fascista, ditador ou prepotente (tenho dificuldade em classifica-lo) de A.J.Jardim e os “yes man” do PSD na ALR, preferiram, todos estes anos, comemorar o fracasso do golpe militar de 25 de Novembro de 1975 levado a cabo por forças políticas radicais, que nem sequer teria acontecido não fora o sucesso do golpe do 25 de Abril.

Foi necessário esperar 37 longos anos para que em 2013 as 7 Câmaras Municipais que se libertaram, finalmente, do jugo do PSD-Madeira, pudessem comemorar Abril. Destaque, este ano, para a presença de alguns operacionais da “Revolução dos Cravos” tais como, alferes Clímaco Pereira, os ex-furrieis madeirenses António Gonçalves, e Henrique Silva assim como Manuel Correia da Silva, ex-furriel, entre outros, a convite da CMF. Aproveito a sua presença em solo madeirense para dirigir-lhes uma saudação especial por nos terem oferecido a liberdade.

Finalmente, em 25 de Abril de 2017, a “Revolução dos Cravos” terá o destaque merecido, na RAM com a presença de alguns operacionais acima referidos os quais participarão em alguns eventos sociais e ainda na sessão solene do 25 Abril na Assembleia Municipal do Funchal. Haverá ainda a apresentação do livro “Os Rapazes dos Tanques” de Adelino Gomes e Alfredo Cunha, que depois de ser apresentado no Continente e outras partes do Mundo irá, finalmente, ser apresentado também na Madeira.

*Relato baseado no testemunho do então furriel madeirense, António Gonçalves, operacional do golpe e em passagens do livro “Os Rapazes dos Tanques”.