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As festas

Veio recentemente a público que a extensão do porto do Funchal é a segunda prioridade em termos de investimento público deste governo (a primeira é o novo hospital). Foi também avançado o custo desta iniciativa. Cerca de 100 milhões de euro – assumindo, claro, que não há derrapagens.

Gostava de ver números, e perceber em que medida este investimento público será capaz de garantir retorno. O mercado de cruzeiros (que é quem vai beneficiar desta melhoria) sempre me pareceu um mercado pouco capaz de garantir margens compensadoras, até porque os públicos clientes destes cruzeiros não são o público que interessa à Madeira, em termos de poder de compra.

Gostava também de ter a certeza que um alargamento do porto vai resultar numa melhoria real das condições deste, e não apenas em mais um elefante branco, como os muitos a que nos habituou a política de betão dos governos regionais.

Gostava ainda que se vissem garantidos os interesses dos residentes, nomeadamente em termos de acesso (náutica de recreio, lazer, prática de actividade física) e de utilização como cliente (especificamente em termos de garantir a existência de mais uma rampa ro-ro, aliás como consta de um plano do porto com mais quarenta anos).

Neste aspecto, garantir-se-ia uma enorme mais-valia para a população em termos dos custos do transporte marítimo (carga e passageiros), enquanto para o país se assegurava – finalmente – o princípio da continuidade territorial. Mas para cumprir este desígnio a ligação teria de contemplar os Açores mais do que as Canárias e, para satisfazer a maior faixa de população possível, teria de ser feita a partir de Lisboa, e não de Portimão ou Setúbal.

É na satisfação deste objectivo – e apenas deste objectivo – que entendo que se possa vir a tratar de uma linha subsidiada, na medida em que o critério da rentabilidade seria minorado por um interesse maior, que passaria pela redução das assimetrias insulares.

Entretanto, enquanto isso não acontece, boas festas para todos, e o melhor ano novo possível.