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Quase 90% da área ardida em 2017 foi de pinheiro-bravo e eucalipto

Foto Adelino Meireles/Global Imagens
Foto Adelino Meireles/Global Imagens

O eucalipto e o pinheiro-bravo representam quase 90% das espécies florestais consumidas pelos incêndios em 2017, mas tiveram comportamentos diferentes perante o fogo, tratando-se de povoamentos com matos e sem matos.

Segundo o relatório da comissão técnica independente, criada para analisar os fogos ocorridos entre 14 e 16 de outubro e que provocaram 48 mortos, em 2017 arderam cerca de 8% das florestas portuguesas, mas arderam 17,4% das áreas de pinheiro-bravo, e 11,9% da área de eucaliptal.

Juntas, estas espécies representaram quase 90% da área ardida no ano passado (pinheiro-bravo com 49,6% e eucalipto com 38,5%), valores muito acima das florestas de carvalhos, castanheiros e outras folhosas (7,4%), pinheiro-manso e outras resinosas (3,5%) e de sobreiro (0,6%) e azinheira (0,3%).

“Os dois tipos florestais que mais ardem (pinheiro-bravo e eucalipto) têm uma estrutura em que o material combustível (folhas e ramos finos) se distribui verticalmente por diversos estratos constituindo como que escadas que conduzem às copas inflamáveis que potenciam a progressão do fogo”, segundo o relatório da comissão técnica independente, entregue hoje no parlamento.

Na análise ao comportamento daquelas espécies, o documento destaca a existência de “diferenças importantes nas proporções ardidas relacionadas com o facto de constituírem povoamentos puros ou mistos” e também com a existência ou não de matos.

No caso do eucalipto, a média da área ardida em 2017 correspondeu a uma média global de 11,9% face à população existente em 2010, mas as áreas de eucaliptal puro com mato arderam numa percentagem de 14,6% em comparação com as áreas sem matos, em que essa percentagem foi apenas de 6,0%.

“O efeito da gestão de combustíveis é aqui evidenciado de forma muito significativa”, salienta a comissão, alertando também para um comportamento mais propício à propagação do fogo nos casos de povoamentos mistos, com o pinheiro-bravo como espécie secundária.

Em relação ao pinheiro-bravo, a situação repete-se. Em média a área de pinheiro-bravo ardida em 2017 correspondeu a 17,4% da área existente em 2010, mas com dados diferentes para povoamentos puros sem matos (11,1%) face aos povoamentos puros com matos (19,6%).

Também nos povoamentos mistos, o valor mais elevado é o da mistura com eucalipto (17,8%), destacando-se mais uma vez a associação destas espécies.

“A importância da escolha da espécie, da sua possível consociação com outras, e da gestão do sob-coberto ficam assim bem determinadas pelo cruzamento das áreas ardidas em 2017 com a ocupação verificada nos fotopontos de 2010”, aponta o documento, ressalvando que, “apesar do desfasamento no tempo, as conclusões são claras”.

Em 2017, refere ainda o relatório, quase metade da área ardida (49,0%) foram florestas, mas os matos, pastagens e áreas improdutivas “ocuparam também uma grande percentagem” (42,5%).

Os restantes 8,5% distribuíram-se pela agricultura (6,9%), espaços urbanos (1,2%, correspondendo a perto de 6 mil hectares) e zonas húmidas (0,4%).