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Investigadores do Porto envolvidos em projecto europeu para prevenir obesidade infantil

Foto Shutterstock
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Investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) estão a participar num estudo europeu, financiado em dez milhões de euros, para identificar a obesidade infantil na Europa e testar as melhores abordagens para a sua prevenção.

“Se a actual onda de obesidade infantil não for interrompida, até 2025 mais de um em cada três adultos será obeso em alguns países europeus”, indicou o ISPUP, em comunicado.

Esta previsão resulta de dados obtidos nas últimas décadas, sendo importante “modificar essa tendência, que pode levar a uma situação paradoxal: pela primeira vez, praticamente ao fim de um século, a esperança de vida da geração dos filhos pode ser inferior à dos pais”, disse à agência Lusa o investigador do ISPUP Henrique Barros.

Através do projeto STOP (Science and Technology in childhood Obesity Policy), iniciado na sexta-feira, os investigadores vão procurar avaliar a obesidade em várias idades da vida, em cerca de 40 mil indivíduos, com atenção particular a crianças até aos 12 anos, adiantou.

“Isso inclui melhorar a compreensão de como o ambiente em que se vive molda o comportamento das crianças e as escolhas dos pais, desde antes do nascimento”, de forma a verificar “os primeiros sinais de mudanças biológicas que podem levar à obesidade”, segundo a nota do ISPUP.

Este estudo “tem uma importante contribuição das coortes [grupo de pessoas que possuem características em comum] do Porto - Geração 21 e Epiteen - nas quais seguimos crianças e adolescentes desde há cerca de 15 anos. No entanto, projectam-se dados para além dessas idades, com o contributo de amostras obtidas em mais seis países europeus”, indicou Henrique Barros.

O projecto, que tem a duração de quatro anos e é coordenado pelo Imperial College Business School, de Londres (Reino Unido), visa também tornar “a indústria de alimentos e outros atores comerciais responsáveis pelo que as crianças consomem”, estimulando-os “a produzir soluções inovadoras para tornar o consumo infantil mais saudável”, avançou o ISPUP.

Entre outras políticas, avaliará a possibilidade de os governos europeus usarem alavancas - como impostos, rótulos nutricionais e restrições de comercialização de alimentos e bebidas - para combater a obesidade infantil.

De acordo com o Inquérito Alimentar Nacional e de Actividade Física (IAN-AF 2015-2016), promovido pela Universidade do Porto, em indivíduos entre os 3 meses e os 84 anos, a prevalência nacional de pré-obesidade é de 34,8% e de obesidade de 22,3%.

“Isso significa que seis em cada dez portugueses (60% da população) são pré-obesos ou obesos”, havendo um “aumento gradual da obesidade ao longo da idade”, notou Henrique Barros.

Segundo o responsável, “a realidade é já alarmante na população infantil”, estimando-se que 25% das crianças com menos de 10 anos e 32,3% dos adolescentes (entre os 10 e os 17 anos) possuam critérios de obesidade ou pré-obesidade, “o que reforça a necessidade de estratégias de prevenção primária de obesidade, em fases precoces da vida”.

Em 2016, acrescentou, “a obesidade posicionava-se como o 6.º factor de risco para mortalidade total e o 4º factor responsável por mais anos totais de vida saudável perdidos (11,5%) em Portugal, precedido apenas pelos hábitos alimentares inadequados (15,8%), a hipertensão arterial (13%) e o tabagismo (12,2%)”.

Para o investigador, a elevada prevalência de obesidade e pré-obesidade em Portugal, o aumento do número de novos casos, bem como a sua elevada ocorrência, desde idades muito precoces, “colocam a obesidade como um dos principais problemas de saúde pública” do país.

Iniciado na sexta-feira e contando com a participação de 31 organizações de pesquisa e governamentais de 16 países europeus, este é “o maior projecto de pesquisa na Europa para combater a obesidade infantil”, sendo a segunda “grande iniciativa financiada pela União Europeia lançada este ano”, no âmbito do programa Horizonte 2020, acrescenta a nota informativa.