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Durão Barroso adverte para “nível mais baixo” e “futebolização” do discurso público

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O antigo primeiro-ministro Durão Barroso advertiu hoje para o “nível mais baixo” do discurso público no plano global, contrastante com o aumento da educação formal, com “uma linguagem cada vez mais ordinária” e “uma futebolização da política”.

O ex-presidente da Comissão Europeia e atual presidente do Banco Goldman Sachs International falava durante uma conferência na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, promovida pelo Club de Madrid, organização internacional que junta cerca de cem antigos Presidentes e primeiros-ministros e da qual faz parte.

Sem mencionar nenhum caso em concreto, Durão Barroso falou em tom de advertência para as lideranças políticas, defendendo que lhes cabe agir como contraponto a esta tendência global: “É esse o papel dos líderes, temos de promover a tolerância nas nossas sociedades, começando entre nós, na vida política, tratando-nos uns aos outros com respeito”.

À saída desta conferência sobre “Educação para sociedades partilhadas”, o antigo primeiro-ministro considerou que, em termos comparativos, a situação não está “tão mal” em Portugal, mas preveniu para o “efeito de cópia”, declarando que “mais tarde ou mais cedo vamos também consumindo aquilo que vem de fora”.

Durão Barroso defendeu que a comunicação social tem também um papel a desempenhar, “não obviamente limitando a liberdade”, ressalvou.

“Mas, haja vozes que contrariem isto, que haja a coragem de dizer: por aí não vamos. Porque, se não, então fica tudo muito feio”, apelou.

O ex-presidente da Comissão Europeia associou o “nível mais baixo” do discurso público a um “efeito de massificação” do ensino.

“A democratização do ensino, que devemos todos saudar, foi acompanhada também por um efeito de massificação que está, a meu ver, a fazer mal às nossas democracias”, afirmou.

“E hoje em dia vemos, nas sociedades em geral, incluindo nas democracias mais avançadas, um nível de confronto, de agressividade, um discurso, como se diz em português, ordinário. Desculpe a expressão, mas é isso mesmo, está uma linguagem cada vez mais ordinária”, considerou, acrescentado que estava “a falar em geral do discurso público, não só político”.