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Cidadãos usam carro por causa das falhas nos transportes públicos

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O automóvel é o meio de transporte mais utilizado pelos cidadãos, que justificam a escolha com as muitas falhas dos transportes públicos, segundo um inquérito sobre mobilidade realizado pela Deco em seis cidades portuguesas.

As cidades analisadas pela Deco - Associação de Defesa dos Consumidores, entre novembro e dezembro de 2017, foram Braga, Porto, Aveiro, Coimbra, Lisboa e Setúbal.

Cerca de 80% dos cidadãos que responderam consideraram que “as soluções existentes nas suas cidades não respondem de todo às necessidades que têm para se deslocarem diariamente e, portanto, persistem na utilização do transporte próprio”, disse à Lusa Bruno Santos, das Relações Institucionais da Deco.

O carro continua a ser, para a maioria dos cidadãos que responderam ao inquérito, “o meio de deslocação preferencial” devido, segundo explicam, “à falta de uma rede de transportes públicos que supra necessidades reais”.

Destes 80% que usam o carro, cerca de 85% estariam disponíveis para abandonar o transporte individual, caso houvesse uma articulação maior entre os transportes públicos e as suas necessidades, sublinhou, defendendo “uma articulação mais fina entre o que são as necessidades dos cidadãos e as soluções de mobilidade”.

Entre os utentes que preencheram o inquérito, 77% recorrem a um ou dois transportes.

A Deco salienta que a opção pelo meio de transporte é decidida a partir de fatores como a duração da viagem, o custo e o conforto, por esta ordem, e que para a opção pelo automóvel concorrem o tempo usado na deslocação, a flexibilidade, o conforto e o custo.

Uma família que tenha de ir para o trabalho, mas que, pelo meio, tenha de passar pela escola, teria de apanhar vários transportes e despenderia mais tempo entre a partida e a chegada, exemplificou.

Por outro lado, o aumento do custo da habitação nos centros das cidades “está a empurrar muitos cidadãos para a periferia e estes cidadãos estão a ser obrigados a trazer carros para dentro das cidades quando regressam para os seus trabalhos, para a escola dos seus filhos, etc”.

Por isso, Bruno Santos defendeu “a possibilidade de novas formas de relação laboral, em que os trabalhadores não tenham de estar obrigatoriamente presentes nos escritórios das suas empresas e possam trabalhar a partir de casa ou, no limite, tenham um horário suficientemente flexível que lhes permita fugir às horas de maior pressão do tráfego”.

Os lisboetas são os mais críticos em relação à frequência e à falta de pontualidade dos autocarros.

O Metro é um meio de transporte cujo horário, frequência e pontualidade atingem no Porto níveis de satisfação de 9 pontos no máximo de 10.

Em Lisboa, “a insatisfação é preponderante e contamina as vertentes analisadas” relativamente a este meio de transporte, com críticas à “frequência com que as carruagens passam, aos atrasos e à falta de conforto”.

Lisboa e Porto são as mais mal classificadas quanto à densidade e à fluidez do trânsito e Braga apresenta uma ligeira vantagem no modo como é classificada a experiência da condução.

O inquérito, realizado entre novembro e dezembro de 2017, foi elaborado também pelas associações congéneres da Deco em Espanha e em Itália, tendo recebido um total de 4.412 respostas válidas, 754 das quais em Portugal.