´O arcebispo de Braga considerou hoje que os portugueses vão lembrar o bispo emérito de Setúbal, que morreu no domingo, como um “homem apaixonado pela causa do ser humano”, que “emprestou a voz a quem não tinha voz”.

“D. Manuel Martins era um homem apaixonado pela causa do ser humano e por causa desta paixão as suas atitudes e as suas palavras foram verdadeiramente proféticas no sentido de estar perto das situações, dos problemas, e ao mesmo tempo denunciar as injustiças”, disse Jorge Ortiga, arcebispo de Braga e ex-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa.

Jorge Ortiga lembrou, em declarações hoje à agência Lusa, que o bispo emérito de Setúbal viveu tempos difíceis, numa diocese com uma “problemática especial, mas conseguindo dar um testemunho de coerência e de amor”.

“Tenho dito muitas vezes que ele [Manuel Martins] emprestou a sua voz àqueles que não tinham voz. Identificou-se com a causa dos trabalhadores e dos pobres. Dos trabalhadores que estavam a viver um tempo difícil e colocou-se do lado deles com ousadia e coragem. Alguns até lhe chamaram bispo vermelho, mas ele não teve medo deste catalogar da sua atitude (...)”, disse.

De acordo com Jorge Ortiga, o bispo emérito de Setúbal identificou-se também com a causa dos pobres, estando sempre muito atento.

“Manuel Martins vai ser lembrado como um homem que viveu a alegria de ser também homem como todos os outros, solidário, que não passava ao lado das situações e que se comprometia pelos outros e motivava a igreja para se comprometer. Ia ao encontro dos problemas, tentava encontrar e dar respostas e não tinha medo de falar, desde que a palavra servisse para proporcionar mais dignidade às pessoas”, concluiu.

Manuel Martins, bispo de Setúbal entre 1975 e 1998, morreu no domingo, aos 90 anos, tendo sido conhecido por “bispo vermelho”, durante a crise dos anos 80, pelas denúncias que fez de situações de pobreza e de fome na região.

Nascido a 20 de janeiro de 1927, em Leça do Balio, Matosinhos, Manuel da Silva Martins estudou no seminário do Porto e, mais tarde, na Universidade Gregoriana, em Roma.

As exéquias do bispo emérito de Setúbal realizam-se na terça-feira, pelas 15:00, no Mosteiro de Leça do Balio, onde a partir de hoje tem lugar o velório, informou a diocese de Setúbal.