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Ambientalistas criticam falta de investimento na conservação da Natureza

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Ambientalistas apontaram ontem a falta de investimento e vontade política para a conservação da natureza num debate em Lisboa, onde autarcas defenderam uma gestão sustentável e mais simplificada das áreas protegidas.

Dirigentes de organizações ecologistas e dos municípios de Odemira e Idanha-a-Nova participaram hoje, no Instituto de Ciências Sociais (ICS), no seminário “Áreas protegidas: que modelo de gestão?”, organizado pela Observa - Observatório de Ambiente, Território e Sociedade, um programa de investigação do ICS da Universidade de Lisboa.

Tito Rosa, ex-presidente do antigo Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade e atual líder da Liga para a Proteção da Natureza, referiu como “principal deficiência, independentemente do modelo de gestão” das áreas protegidas, “o facto de sucessivos governos não investirem suficientemente”.

No seu entender, os diferentes governos “não adotaram os instrumentos financeiros” disponíveis que permitiriam “melhorar a gestão das áreas protegidas”.

Para o presidente do Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA), Joanaz de Melo, “a missão de conservação da natureza não tem uma cobertura política séria” há vários anos.

“Não estamos a proteger a natureza”, vincou.

Joanaz de Melo mencionou os “meios inadequados” de gestão das áreas protegidas, uma gestão que, sustentou, deveria ser partilhada entre o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), para as áreas de âmbito nacional, e os municípios, para as áreas locais.

O dirigente do GEOTA lembrou, citando a legislação em vigor, que, como estímulo à preservação da natureza, devem ser atribuídos “benefícios económicos” aos proprietários de terrenos enquadrados em áreas protegidas que “valorizem os ecossistemas”.

O presidente do ICNF, Rogério Rodrigues, recordou que a gestão dos “valores naturais” em Portugal faz-se, numa grande parte do território, em solo privado, pelo que advogou ser necessário “encontrar sinergias”, inclusive com autarquias e empresas de turismo e desporto da natureza, que “capitalizem as economias locais”.

Rogério Rodrigues considera que o Estado deve ser “o zelador dos valores naturais”, mas não pode deixar de “encontrar parcerias estratégicas” para assegurar essa tarefa.

Sobre a falta de recursos, o presidente do ICNF invocou que, este ano, os fundos para a conservação da natureza aumentaram de 600 mil euros para três milhões de euros, permitindo “alguma sustentabilidade dos projetos” e que está prometida a contratação de 50 novos vigilantes da natureza.

Na conferência, o presidente da Câmara Municipal de Odemira, José Alberto Guerreiro, criticou “a sobreposição de regimes” jurídico-legais de gestão das áreas protegidas que, disse, dificultam essa mesma gestão.

O presidente da Câmara de Idanha-a-Nova, Armindo Jacinto, sublinhou por sua vez que “o país deve ver nas áreas protegidas um processo de desenvolvimento sustentável do território, com e para as pessoas”, e vocacionado para a “criação de riqueza”, dando como exemplo o turismo de natureza.