Crónicas

Todos Diferentes, todos Iguais

Até que ponto devemos nós, eleitores, colocar os ovos todos no mesmo cesto? As maiorias têm demonstrado que, mais tarde ou mais cedo, põem e dispõem dos nossos destinos, até porque estão munidas da tal legitimidade do voto que lhes foi concedido. 2019 está aí ao virar da esquina e temos claramente dois candidatos que, até agora não me convencem, e não são assim tão diferentes.

É o cansaço e a desilusão que fazem com que a maioria de certas sociedades se sintam tentadas a dar um voto de confiança a todos aqueles que surgem como salvadores da pátria, os que aparecem a falar com uma linguagem tão básica que até podia ser proferida por um analfabeto.

Depois é agarrar nos ódiozinhos que infelizmente ainda proliferam para fazer disso uma bandeira que facilmente se transforma em lema de campanha.

As demagogias conseguem vingar devido às traições daqueles que anteriormente foram eleitos, devido à corrupção evidente, aos jogos de bastidores desmascarados, à impunidade dos poderosos, à justiça que, cega, comete injustiças aos olhos daqueles que nada percebem de leis porque, pura e simplesmente, ninguém está interessado em explicar, de forma básica, a legislação ao cidadão comum. Mais do que criticar o aparecimento do “Trump of the Tropics” ou, como também é conhecido nos EUA, pelo “Brazilian Trump”, há que refletir seriamente para onde caminha essa sociedade que devido a todas as desilusões e sede de vingança, dá crédito a indivíduos que dizem o que eles querem ouvir, falam na mesma linguagem e plantam nos seus cérebros ideias que, a serem postas na prática, abalam estruturas morais, humanas e sociais.

Esse cansaço e desilusão não é exclusivo de uns Estados Unidos ou de um Brasil. Por cá, também temos sinais evidentes de que a população, muito mais educada e esclarecida que as anteriores, anseia uma mudança.

Há aqueles que sabem escutar os sinais e há os outros que numa ilusão de conforto decidem ignorá-lo.

Até que ponto devemos nós, eleitores, colocar os ovos todos no mesmo cesto? As maiorias têm demonstrado que, mais tarde ou mais cedo, põem e dispõem dos nossos destinos, até porque estão munidas da tal legitimidade do voto que lhes foi concedido.

2019 está aí ao virar da esquina e temos claramente dois candidatos que, até agora não me convencem, e não são assim tão diferentes. Senão vejamos: enquanto presidente de Câmara, Miguel Albuquerque sempre foi o querido do povo, o delfim mais estimado, aquele que estava junto da população nos bons e nos maus momentos. Foi durante os seus mandatos que o Funchal ganhou velocidade em todas as áreas, muito graças às equipas competentes que teve ao seu lado. Paulo Cafôfo também tem uma equipa competente que o ajuda a brilhar e a modernizar o concelho.

Enquanto presidente de Câmara, Albuquerque e já cultivando a sua imagem de delfim, aparecia em tudo o que era lado: revistas nacionais, jornais, tv’s. Só não havia Facebook ou Instagram. Paulo Cafôfo está a fazer exatamente aquilo que o seu antecessor fez: dar nas vistas, promover a imagem, imiscuir-se em assuntos de Governo, dar palpites sobre áreas onde não tem competência.

E até mesmo as palavras ocas proferidas para auditórios repletos de pessoas fazem parte das estratégias usadas. É tão fácil falar sobre os assuntos que incomodam a esmagadora maioria da população. Temos a Saúde, o Ferry, o Hospital (já descobriram o pai da criança?), a Educação, etc, etc. Dizer que precisamos disto e daquilo é fácil. Explicar como será feito é um bico de obra que mais vale nem pensar.

Para 2019, Cafôfo, à primeira vista, representa de facto uma lufada de ar fresco. As pessoas cansaram-se de tantas maiorias do PSD, Albuquerque foi uma desilusão para muitos, incluindo no seu próprio partido e já há quem diga “volta Alberto João que estás perdoado”. O delfim que conhecemos enquanto autarca, não é o mesmo enquanto presidente do Governo.

Mas voltando ao primeiro candidato que ainda há dias escreveu um artigo de opinião neste Diário, cuja primeira parte poderia ter sido escrita por qualquer partido. Primeiro e num acto que revelaria responsabilidade, rectidão e respeito pelos funchalenses, já devia ter entregue os destinos da Câmara a outra pessoa e dedicar-se única e exclusivamente à campanha. Se é para ganhar, qual é a hesitação? Isto de andar de segunda a sexta como autarca e ao fim de semana como candidato, não foi durante anos e anos criticado pelos partidos da oposição, incluindo o PS?!

Depois, há que começar a assumir as suas fraquezas nas tais palavras ocas ou mostrar substância das suas propostas e ideias. Discursos populistas colam durante um tempo, mas creio que depois da desilusão destes últimos anos, os madeirenses não vão voltar a cair em promessas vagas para depois ficarem a saber que afinal só se faz se o dinheiro vier de Lisboa, ou só se fez porque foi apenas um teste.

Não há políticos salvadores da pátria com varinhas de condão! Não existem! E volto a perguntar: vale a pena meter os ovos todos no mesmo cesto?