Crónicas

Revolução Franciscana

O Papa proclama um mundo mais justo, acabando com a economia que mata e provoca pobreza

A Igreja Católica está a passar por uma revolução, nem sempre tranquila e nem sempre silenciosa, mas absolutamente necessária. Num tempo em que a única coisa certa é a incerteza, a Igreja acompanha os sinais dos tempos, sem, no entanto, abdicar dos princípios e valores da sua doutrina. O Papa Francisco que esta semana completou cinco anos de pontificado é o mentor dessa revolução que terá começado com a resignação de Bento XVI. Foi a atitude de grande humildade e de enorme coragem de Ratzinger que abriu caminho a esta nova fase da Igreja. Ao confessar a sua falta de força para empreender a Reforma do Governo do Vaticano, o teólogo alemão deu um sinal ao Colégio Cardinalício que era preciso escolher um Papa de luta e de vanguarda para fazer as mudanças que se imponham e voltar a situar o cristianismo no quotidiano dos crentes e no centro do mundo. E Francisco está a consegui-lo!

A mudança em curso é orgânica e comportamental, implicando ruturas com a Cúria e com a opacidade financeira do Vaticano, mas é, sobretudo, uma mudança na forma como a Igreja vê o mundo, sendo que a transformação mais visível tem a ver com as novas leituras da doutrina à luz do pensamento humano e do conhecimento científico que vão de encontro a problemas concretos do homem de hoje. Francisco está a realizar uma revolução estrutural no Governo da Igreja e a empreender uma evolução teológica na doutrina cristã, na linha do Concílio Vaticano segundo. É por isso que, ainda, esta semana, Sergio Tapia-Velasco, um eminente vaticanista dizia que a Igreja tem tido o dom de Deus de ter o Papa certo no momento certo em função da suas necessidades e das urgências do mundo. E realmente é verdade: Paulo VI foi um sociólogo que trabalhou pela Paz e pela abertura da Igreja; João Paulo II foi o filósofo atuante que derrubou o comunismo e levou a Palavra aos crentes; Bento XVI foi o teólogo que pensou nas Reformas da organização e da doutrina e Francisco está a ser o “revolucionário” que está a abanar as consciências e a dar respostas aos problemas reais dos fiéis, mas também dos não crentes. É curioso que muitos tradicionalistas acusam este Papa de estar a desvirtuar a doutrina por ir de encontro a realidades como a da homossexualidade ou a dos recasados, procurando que a Igreja os compreenda e acolha, mas é este mesmo Pontífice que não se cansa de condenar os pecados do Vaticano e dos seus membros e que vem defendendo um regresso à pureza dos Evangelhos. Francisco sabe que a secularização, em particular da Europa, com o avanço do relativismo e do hedonismo, criou sociedades muito desumanizadas e com profundas desigualdades, que hoje estão sedentas de fé e de justiça. Francisco, um comunicador autêntico, tem uma mensagem para todos e uma palavra para cada um, e é esse o segredo do seu pontificado e desta Igreja que renasce em todos os cantos do globo.

O Papa proclama um mundo mais justo, acabando com a economia que mata e provoca pobreza; insurge-se contra a corrupção e a ganância que criam exclusão e miséria; indigna-se com o drama dos refugiados que fogem da fome e da guerra; denuncia a passividade perante as alterações climáticas que estão a dar cabo do planeta; defende e prossegue o diálogo e a aproximação com as outras religiões e com os agnósticos e ateus e pede perdão pelos erros da Igreja. Mas este é também o Papa que elege a família como célula base da sociedade e que afirma a oposição ao aborto e à eutanásia; que defende a valorização do trabalho e justos salários para diminuir as injustiças sociais; que pede desculpa e se envergonha da pedofilia em muitas paróquias; que não julga os homossexuais, antes apela ao acolhimento e compreensão; que procura um lugar para os recasados no seio da Igreja e que tem sempre uma palavra e um perdão para quem peca porque essa é a essência do cristianismo. Com esta forma de ser, de estar e de comunicar, Francisco reconciliou milhões de pessoas com a Igreja e levou o Evangelho a outros tantos que nunca tinham acreditado. Esta é uma boa revolução para o cristianismo.