Crónicas

Os Estados Centrais, perdão, Gerais

. Ora então vem aí um orçamento rectificativo. O Governo Regional ou descobriu uma árvore das patacas ou tropeçou num tesouro de piratas. Gostava que me explicassem de onde raio saiu esta folga orçamental a distribuir dinheiro por todo o lado?

1. Disco: Em “So Sad So Sexy”, Lykke Li traz-nos um disco fantástico, carregado de pop e R&B do “nosso tempo”. A sueca nunca falha nas malhas de um indie pleno de contemporaneidade.

2. Livro: “Porque Falham as Nações” de Daron Acemoglu e James A. Robinson. Entre “instituições extractivas” e a obrigação destas se transformarem em “inclusivas”, provam à exaustão que só o progresso conduz a um modelo social de sucesso. Explicam, claramente, que o “determinismo histórico” é uma ilusão e que o desenvolvimento resulta da qualidade das instituições. A história humana pula e avança pela mão de “revoluções”, a maioria das quais pacíficas. Foi pela “destruição criativa” que aqui chegámos.

3. No CDS, avançam Rui Barreto e Américo Silva Dias. Que tudo seja claro e que não se repitam os erros do último congresso. Assim o exige a democracia madeirense.

E no PSD diz que Manuel António, “le dauphin”, morde os calcanhares a Albuquerque.

Isto promete.

4. E no PS, decorreram as primeiras sessões dos seus “Estados Centrais”, perdão, “Estados Gerais”. Esperemos que os trabalhos dos diferentes grupos tragam, no concreto, a clareza necessária para que fique finalmente perceptível ao que vêm e para onde pretendem ir. É que os discursos de circunstância não passaram disso mesmo. Que na educação é “preciso fazer mais e melhor” é um lugar-comum. É, e será, sempre possível fazê-lo. Esteja quem estiver no poder.

Defender que “a habitação e a resposta social ao idoso são duas das questões mais básicas e fundamentais numa sociedade”, ao qual teria o cuidado de acrescentar o emprego, é também transversal a todos os que andamos na política.

Defender mais e melhor igualdade é, também, caminho que a esmagadora maioria dos partidos defende.

António Pedro Freitas modera a saúde e veio dizer: “não estamos aqui para falar do SESARAM ou dos problemas directos do SESARAM (...), mas para encontrar soluções para o futuro”. Fiquei baralhado. Esta de esquecer o passado e pôr-lhe uma pedra em cima é coisa de que sempre gosto. Estaremos perante a tal da “criação destrutiva” de que falei acima, a propósito do livro que recomendei? Depois foi o resto, a costumeira confusão entre medicina e saúde que nos leva à pergunta: o que é que o cu tem a ver com as calças?

Na economia, o seu coordenador, defendeu mais promoção da Madeira propondo a criação de uma agência para o investimento que vá muito mais além do que actualmente existe. Que procure e capte investimento. E foi a ideia mais interessante que dali saiu.

O resto foi o costumeiro mais do mesmo com Me e Mini-Me e os seus discursos de frases feitas. Esperemos que estes grupos de trabalho lhes alterem a estratégia discursiva porque esta, entre os chavões da “sociedade civil” (seja lá isso o que for) e o tal do reduntante “Novo Futuro”, já cansa.

5. E a talho de foice, que raio é isto do “Novo Futuro” para além de uma redundância? Sou só eu que acho que se é “futuro” só pode ser novo? Ou estou errado? Já o escrevi na semana passada e volto a escrevê-lo: estas “papaias” só nos podem causar medo. São assim atiradas sem qualquer explicação para ver se apanham incautos à esquina. É o tal do discurso sebastianista do predestinado. Do homem salvífico. Esta predestinação tresanda a conservadorismo bacoco.

6. O SESARAM deve dar cá uma trabalheira. Tanto trabalho que uma pessoa é convidada para uma iniciativa partidária que leva atrás o nome de um partido, aceita e depois “desaceita” porque descobre, de repente, que uma iniciativa partidária, organizada por um partido, tem uma “forte índole partidária”... Esta fez-me ganhar o fim-de-semana!

7. Estes estados gerais socialistas mostram como certas entidades regionais sabem jogar o xadrez da política e da economia. E como alguns gostam tanto de ser peõezinhos.

8. Viremo-nos para o outro lado. Ora então vem aí um orçamento rectificativo. O Governo Regional ou descobriu uma árvore das patacas ou tropeçou num tesouro de piratas. Gostava que me explicassem de onde raio saiu esta folga orçamental a distribuir dinheiro por todo o lado? E mais funcionários públicos? Mas isto anda tudo maluco? Em vez de emagrecer uma máquina pesada e devoradora de dinheiros públicos, o objectivo do governo é aumentá-la?

Porque não uma outra coisa: aumentar os vencimentos dos funcionários do Estado e exigindo-lhes maior produtividade? Sairá, decerto, muito mais barato e aumentando a produtividade e a desburocratização diminui-se a despesa do Estado, o que conduz à baixa de impostos, permitindo à economia gerar mais investimento. É preciso um desenho?

9. Orgulho muito grande pela condecoração atribuída por Marcelo Rebelo de Sousa aos Xarabanda. Merecidíssima. Falar de cultura da Madeira é falar dos Xarabanda. Parabéns a todos os que lá estão e aos que por lá passaram. Bem hajam.

10. Na passada semana Vital Moreira, o maior opositor das autonomias insulares aquando das constituintes de 1975, veio, mais uma vez, vomitar o seu ódio. Diz que o Estado não tem nada que contribuir para a construção de um novo hospital na Madeira. Este centralista socialista (ex-adepto do tal de centralismo democrático do PCP) tudo deturpa para levar a água ao seu moinho. Um nojo.

11. O Bruno de Carvalho envergonha-me. O Marta Soares envergonha-me. A “fruta” envergonha-me e os “padres” e o “primeiro-ministro” também. E não deixo o “Cashball” nem a “Lex” de fora. Tenho vergonha dos emails e das claques legalizadas e das outras que, não o sendo, são apoiadas. Envergonha-me a violência e a mentira e a manipulação e a descontextualização. Envergonham-me os canais de televisão e os jornalistas que se prestam a tornar o circo ridículo em caso nacional. E envergonham-me os comentadeiros ditos independentes e os que lá estão por, pretensamente, representarem clubes. E envergonham-me os árbitros e os dirigentes e os três grandes e o G15 e os gajos da Liga e da Federação. E envergonham-me alguns jogadores e uns tantos treinadores e adeptos que olham para tudo isto com palas nos olhos.

Resumindo, o futebol português envergonha-me de tão pestilento que é. E a culpa disto tudo não é só dos que acima referi. É de todos nós que alimentamos esta porcaria ao nos envergonharmos mas não deixando de seguir o que se passa.

Ainda por cima é vergonha alheia. Eu não quero ter nada a ver com isto.

Parafraseando Almada Negreiros:

“O futebol português morreu, morreu! Pim!”

12. Na passada semana, tomei posse como Presidente da Associação de Promoção das Artes, Cultura e Criatividade da Madeira. Continuo a achar que não sou talhado para isto, mas considerei o convite pela amizade que me une a quem me o fez e tive o cuidado de me rodear de “mais-valias”, das quais não destaco ninguém pois teria que referir todos.

No momento da tomada de posse, senti sobre o meu ombro a presença da minha mãe que me segredava: “não te metas nisso. Olha que eu também andei por aí e é preciso ter tudo no sítio para que estas coisas não nos tolham a liberdade”. E assim será: nada me condicionará o pensar, o dizer, o sentir. Quando estiver a mais, vou-me embora. Sou o que sou e tenho orgulho nisso.

13. Alguma coisa anda a mudar nesta terra quando o meu amigo Tó Fontes é eleito presidente de uma instituição de referência como é o Clube Naval do Funchal e o Nuno Morna preside a uma associação cultural...