Crónicas

O Brinca na Areia

1.Disco: o de hoje vai dedicado aos que me criticam por andar armado em “pseudo-intelectual” ao aconselhar música que ninguém conhece. Paul McCartney e o seu “Egypt Station” servem para me redimir? McCartney do alto dos seus 76 anos já não tem nada a provar a ninguém. “Egypt Station” é, em parte, um disco de revisitação. Ora soa a outros trabalhos a solo, ora soa a Beatles, ora soa a The Wings, ora não soa a nada que tenha feito transportando-nos, por exemplo, para o som de uma bossa brasileira.

2. E já que aqui andamos, deixem que me arme mais um pouco em “pseudo-intelectual” aconselhando-vos a leitura de uma série de pessoas que escrevem na imprensa regional e que são dignas de ser lidas com avidez. Pedro Nunes, José Júlio Curado, Miguel Guarda, Octaviano Correia, Duarte Caires, Raúl Ribeiro, João Márcio de Matos, Eduardo Azevedo, Raquel Gonçalves, José Paulo do Carmo, Sandra Cardoso, Márcio Berenguer, Sancho Gomes, Ricardo Pestana, Filipe dos Santos, Tiago Freitas, Joana Silva, Francisco Gouveia, José Júlio, Hélder Spínola, André Barreto, Rui Campos Matos, Pedro Fontes, Cristina Costa e Silva, Francisco Santos, Pedro Melvill Araújo, Eker Sommer, Miguel Silva Gouveia, Ricardo Miguel Oliveira, Rubina Berardo, Sérgio Nóbrega, Marta Caires, Sónia Franco, e alguns outros de que me estou a esquecer de certeza e para os quais as minhas desculpas, são todos merecedores de serem lidos com atenção. Adoro o meu ritual da manhã que me leva à tabacaria comprar os dois matutinos, e depois entrar na porta ao lado para um café e “safari” de leitura demorada das crónicas e opiniões que prezo, mesmo que muitas vezes não concordante com o conteúdo. Há deles que lhes anseio o merecido livro.

3. Na Suécia a extrema-direita sai como a grande vencedora das eleições. Estes fenómenos, apoiados na xenofobia e no racismo, não podem ser encarados como um “dói-dói” que depois passa. Têm de ser olhados nos olhos e frontalmente combatidos. Não é enterrando a cabeça na areia, fingindo que se não vê, não é ignorando que se resolve o problema. As respostas estão no combate político, na demonstração de que a razão não está do lado deles.

4. No Porto Santo, a areia retirada de dentro do Porto de Abrigo será depositada numa zona que vai da Vila Baleira (Praia do Penedo) até às Pedras Pretas. Para esta zona toda, calculo que serão muito poucos centímetros por metro quadrado as areias ali depositadas. A cota será a de -7 metros de profundidade, o que andará ali por uns 10m à frente do cais. Se, previamente, a areia que neste momento se encontra na zona intertidal* (nos locais onde ainda existe) não for puxada para a praia, isto não vai dar em nada, uma vez que areia não empurra areia. É uma questão de capacidade mecânica da mesma, que não existe. Depois temos de ter em conta que esta operação será feita na altura errada do ano. Estamos no fim do verão. O Outono está aí à porta. A possibilidade dos ventos começarem a soprar do quadrante sul é muito forte. E são estes ventos que provocam a cíclica remoção da areia da praia. Como se torna evidente, a que venha a ser depositada na zona de rebentação irá ser levada para fora e não para o destino pretendido.

Tenhamos em atenção que o grande problema da tempestade do inverno transacto deu-se ao nível do complexo dunar. Aquilo que aconteceu foi um DESASTRE e pura e simplesmente assobiou-se para o ar, como se de nada de grave se tratasse. Basta passear pela praia um pouco e ver em que estado está a duna em frente ao restaurante Pé na Água. Essa areia foi levada pelo mar. Voltou a subir? Pela teoria que vai levar à operação ora anunciada, a praia devia estar cheia de areia uma vez que o mar levou a que estava na duna, logo devia “pousá-la” na zona de rebentação. Não o fez.

Perante o acima descrito, está visto aonde se quer chegar. Como ao retirá-la têm que a largar em qualquer lado isto sempre serve para atirar areia para os olhos das pessoas... e para isso sim, chega!

A quantidade de areia a ser dragada não dá nem sequer para um quarto da missa. Ainda antes de concluída a operação, já se sabe quem é a culpada: a NATUREZA. Essa maldita que não vai cumprir com a sua parte. Que chatice.

A praia do Porto Santo não é assunto de menos, é, a par das suas fantásticas gentes, a maior mais-valia da ilha. Continuar a fingir que se tira uma areiazinha de um lado e se põe no outro, como se isto fosse um jogo de “muda aos três e acaba aos seis”, vai ter como resultado: absolutamente nada.

Eu amo o Porto Santo desde que tive o privilégio de lá ter vivido. E fico horrorizado com a inércia das entidades oficiais. Representante do GR, Câmara Municipal e Junta de Freguesia ficam calados e nada dizem, em Março passado, deviam ter considerado como ZONA DE CATÁSTROFE todos os locais do complexo dunar que foram destruídos.

Mas com certeza que estarei errado. Eu e as pessoas que ouvi e as coisas que fui ler para perceber. Assim como assim, a Sra. Secretária é geóloga e saberá muito melhor do que eu o que está a fazer.

* Intertidal: zona que fica entre a maré alta e a maré baixa; zona de rebentação.

5. Todo o processo do embargo das obras do Hotel Turim, que levava já mais dois andares, é demonstrativo de que, muitas vezes, o que muda são as moscas.

6. Para memória futura: o Parlamento Europeu aprovou o relatório que condena o governo da Hungria por “risco manifesto de violação grave dos valores europeus”. A Hungria tem um governo de direita radical. Estamos a falar da Hungria do senhor Órban. Ele são perseguições a migrantes, refugiados e minorias; benefícios em causa própria de fundos comunitários por parte de membros do governo; alteração de preceitos constitucionais que vão contra o que estabelecem os tratados europeus; interferências por parte do poder político no sistema judicial; perseguição à média; restrição da autonomia académica das universidades; constantes tentativas de controlo da liberdade religiosa e de associação.

O PCP votou contra. Marinho e Pinto absteve-se.

7. Já andava cá suspeitoso mas agora confirma-se: as ruas de João de Deus e do Bom Jesus vão passar a ter só uma faixa de rodagem. A faixa da esquerda da João de Deus passa a ser para estacionamento. Uma das entradas da cidade foi afunilada, o acesso a uma das maiores escolas da região foi prensado, uma ambulância que precise passar de urgência para ir para o Centro de Saúde (um dos maiores da Madeira) vai obrigar os carros a subir passeios e quando o conseguirem, porque em toda a extensão da João de Deus uns ferros o impede de um lado e o estacionamento, que passará a ser pago a partir de Outubro, o impede do outro.

A CMF refugia-se num tal de PAMUS. E vai um cristão ler o que está nesse PAMUS e depara-se com isto: “Redução do número de lugares de estacionamento no espaço público, nas centralidades, de forma a libertar espaço para a melhoria da circulação pedonal, redução do congestionamento no interior das centralidades (...)”, ou com isto: “(...) A curto prazo, nas áreas centrais, será necessário reduzir gradualmente a oferta de estacionamento em espaço público (...) e promoção do estacionamento nos parques existentes”.

Pergunto-me se isto terá alguma coisa a ver com uma possível necessidade de aumentar as receitas da Frente Mar?!

8. “A censura existia para nos obrigar a não ter opinião sobre nada. O Facebook existe para nos obrigar a ter opinião sobre tudo.” – escreveu, e muito bem, o meu bom amigo Pedro Miguel Ribeiro.