Crónicas

Homens ao Leme

E mais que uma onda, mais que uma maré... Tentaram prendê-lo, impor-lhe uma fé... Mas, vogando à vontade, rompendo a saudade, Vai quem já nada teme, vai o homem do leme...

1. De Noel Gallagher’s High Flying Birds, “Who Built The Moon” tem tudo para ser um grande álbum. Com um cherinho a Oasis e sem termos que levar com as cenas entre Noel Gallagher e o seu irmão Liam. Destaque para o preview “Holy Mountain”.

2. “Sapiens: Uma Breve História da Humanidade, de Yuval Noah Harari, um livro que devia ser obrigatório. O que se poupava em idiotice e estupidez se o fosse. Nunca um livro, aparentemente técnico, foi escrito com tamanha clareza. Uma visão apaixonada e apaixonante, simples na sua construção e tão, mas tão entendível. Há alturas em que a capacidade de escrita de Yuval Noah Harari nos deixa, literalmente, com falta de ar. De caçador-recolector a agricultor, da necessidade da escrita à simplificação da invenção do dinheiro, tudo surge ao abrigo de ideias e de mitos que todos aceitamos como verdades unificadoras. É um livro que se deve ler com vagar. Por puro egoísmo. De maneira a que se o vá degustando com calma. Saltando de surpresa em surpresa. Quando o terminamos ficamos com pena mas no fundo mora a alegria de saber que na prateleira já está “Homo Deus” do mesmo autor...

3. Por motivo de força maior e porque o espaço aqui não cresce, deixei passar o resultado do concurso para a concessão do Café do Teatro. Hoje em dia vou lá pouco, reconheço-o. Tenho para mim que o Teatro Baltazar Dias é a “Casa da Cultura” do Funchal. E considero-o com todas as suas valências. Já em tempos dei conta da minha tristeza de este concurso se ter feito todo ele baseado em números. E números geridos de tal forma que até parecia encomenda. Poucos seriam os empresários regionais que se poderiam abalançar a concorrer tais eram os quesitos concursais. Deixa-me triste porque o Café do Teatro, sendo uma dessas valências, há muito que deixou de ser um polo de cultura. Foi ali que dei os meus primeiros passos no envolvimento nas coisas ditas culturais. Foi por ali que bebi das palavras de tantos vultos do “ser madeirense” que tenho medo de referir algum sob pena de me esquecer de certeza de muitos e valorosos outros. Showcases, sessões de poesia, debates, conferências, tertúlias, etc., tanta e boa cultura. O concurso foi um debitar de milhares de euros para isto, milhares para aquilo, milhares para aqueloutro. E a cereja no topo do bolo “adjudicação à melhor oferta”, com um pressuposto base de renda de outros tantos milhares. Sobre um projecto cultural ou, a existir, da sua valia, nem uma letra constava. Dou de barato que isso estivesse contido no articulado do concurso que não consultei. Mas decerto que não era determinante pois se o fosse não passaria sem ser visto por tantos olhos abalizados que se dedicam a olhar estas coisas. O projecto cultural a estar contido, deve valer muito pouco. Quem ganhou nem a ele se referiu. Tenho pena que os “gestores da coisa pública” tanto falem de cultura, tanto com ela encham a boca, e que depois, quando têm que demonstrar o seu empenho, o não façam. E este parece ser mais um caso desses. Vou fazer o possível para daqui não tirar nenhuma ilação, mas que me começam a passar coisas pela cabeça... Estranho seria se no articulado do concurso também surgisse que de meia em meia hora o melhor do mundo no momento tivesse que cantar uma kizombada...

4. “Os madeirenses, todos os anos pelo Natal e pelo Ano Novo e aí pelo mês de Junho, têm uma espécie de entretenimento ideal que é queixar-se da TAP. De quem mais é que se poderiam queixar?!”. Ficam aqui as declarações de Diogo Lacerda Machado, administrador não-executivo da TAP (assim a modos que um gajo que ganha ordenado para ir dar bitaites nas reuniões da administração). As ditas cujas são de tal maneira aleivosas que merecem o registo. Para memória futura.

5. Pornografia 1.01 é um gajo apoiar Trump e fazer citações de Chomsky.

6. E pronto, aquilo bateu no fundo. É ver nas redes sociais como o debate anda elevado. Quarenta anos passados sobre o 25 de Abril a autofagia no PS só piora. Como é que querem que uma pessoa lhes equacione um voto. Isto é pior do que uma associação recreativa mal gerida. E que me perdoem as associações recreativas. Mesmo as mal geridas. Sem dúvida que temos um enorme défice de oposição.

7. Tenho umas perguntinhas para fazer ao primeiro ministro...

NIB 4563 0000 0056 7890 1234 5

8. Sim, eu sei. Eu sei que agora, e porque estou ligado a um partido, deveria ser mais comedido e abster-me de certos comentários. Mas há coisas que são mais fortes do que eu. Porque me lembro bem. Porque não sou desmemoriado. O “líder” do CDS/Madeira, “avis (não assim tão) rara”, andou anos a ser um “yes man” de Ricardo Vieira. A táctica genuflectora deixava-lhe os joelhos em sangue de tanto se arrastar. Muito lhe deve e não só ao nível político-partidário. Tendo eu diferenças políticas profundas com Ricardo Vieira, nutro por ele simpatia e reconhecimento considerando-o mesmo um nome incontornável na história da autonomia da qual fará parte quando esta for escrita. O Dr. da Fonseca nem direito a uma nota de rodapé terá!

9. Aqueles que a tudo se sujeitam, que da vida têm uma ideia de subserviência, que nasceram para ser servis, que conseguem “engolir” o indigerível, cuja coluna vertebral é borrachosa, são os únicos responsáveis pela “merdocracia” em que vivemos.

10. Dona de uma escrita solta porém organizadíssima, quase britânica, Ana Teresa Pereira ganhou o prémio Oceanos de Literatura. Concedo que pode não haver uma escrita madeirense, mas de certeza que, neste caso, há uma enorme escritora madeirense. BRAVO!

11. E morreu Belmiro de Azevedo. Passou pela vida polemizando como deve ser sempre. Fez-se Homem e rico. E há quem nunca, nem na morte, lhe perdoe isso. Um bom capitalista é um capitalista morto, não é?

12. E mais que uma onda, mais que uma maré...

Tentaram prendê-lo, impor-lhe uma fé...

Mas, vogando à vontade, rompendo a saudade,

Vai quem já nada teme, vai o homem do leme...

Adeus Zé Pedro. Até um dia.