Crónicas

As manif’s

A democracia trouxe consigo a tolerância, a abertura das mentalidades e a certeza da plena liberdade. Resultado, o que pensávamos impossível acontecer numa região que dantes fora conservadora, provinciana e preconceituosa já sucede...

A Manif 1

As que, um pouco por todo o lado, vêm acontecendo em torno da candidatura de Rui Rio e das eventuais alternativas ao ex-autarca do Porto, trazendo para primeiro plano a questão da liderança daquele que já foi o maior partido português. Como consequência da decisão inteligente de Passos. Fruto das circunstâncias o adversário preferido de Costa. Os órfãos naturalmente estrebucham procurando um pai de aluguer. Era Montenegro, não foi, era Rangel, não foi, era Santana, talvez vá ser. Relvas (que fez de Coelho líder) quer que seja, Marcelo oferece almoço (para discutir assuntos da Santa Casa... com quem afinal vai embora?) e o PM ajuda facilitando qualquer entrave que se coloque a propósito do cargo que vem desempenhando.

Tudo isto numa organização política que enfraquece gradualmente mas que ainda tem e mostra esperança. Que o projecto social-democrata é viável e credível. Que pelo caminho teve de socorrer o país, com sacrifícios imensos para todos, depois de o executivo socialista o ter deixado no estado que sabemos. Mérito para quem então dirigiu o governo. Mas depois, quando já haviam melhores condições, deveriam ter abrandado a austeridade e não o fizeram. Esse timing escapou-se-lhes. Com os resultados políticos nefastos que se conhecem. Os proventos da rigorosa e custosa governação são agora habilmente aproveitados por António Costa, com a ajuda da melhoria da conjuntura internacional e, especialmente, com o crescimento generalizado das economias europeias.

O Primeiro-Ministro parece o líder da oposição, feliz, contente e prometendo melhorar a vida a toda a gente, e o ainda presidente do PSD teimando em não despir as vestes do cargo que já foi seu, assumindo uma, eleitoralmente, desadequada postura pessimista (o diabo vem aí) e continuando a salientar os tiques austeros do passado. Num desacerto que carimbou o partido com aquela marca de severidade mesmo quando já devia estar a transmitir uma mensagem de fé positiva e de que, aproveitando os ventos favoráveis que sopram do exterior, era capaz de fazer melhor do que o seu principal adversário.

A missão afigura-se-nos muito difícil. Precisamos de uma pessoa do povo, que fale para o povo e lhe garanta crença, confiança e respeito. Não podemos continuar a ser os pessimistas da história. Temos de voltar a ser os optimistas responsáveis e credíveis que transportam o estandarte da esperança.

É dever de todos os filiados contribuírem para salvar o agrupamento político que dão corpo, neste período particularmente mau da sua existência, e isso só acontecerá com uma significativa mudança de rumo. Que, sem pôr em causa os méritos do passado mais ou menos próximo, não viva deles e se adapte às circunstâncias e conjuntura do país e do mundo de hoje.

E não vai ser com clones que vamos lá. Nem com aqueles que, agora, parece tudo servir, inclusive transportar para sobreviver o que de mau ou pior houve nos desgastados tempos mais recentes.

Espero que os militantes saibam que chegou a hora de mudar tirando a agremiação social-democrata da rota cinzenta do definhamento. Em unidade ou com abrangência suficiente, contando com todos (ou quase todos), que é o que nos faz fortes e vencedores. Mas, sobretudo, para estarmos preparados para provar aos eleitores que, mesmo reconhecendo o que vem sendo feito de positivo, teremos competências para fazer ainda melhor.

Eu acredito. Esperando que não pessoalizem a questão porque o assunto revela-se demasiado grave para isso, vou contribuir, saindo do retiro a que me propus e cumpri, tão só para, a nível nacional, de forma modesta, lutar para ajudar a garantir longa vida ao PSD. A associação política que ajudamos a construir para servir Portugal. E que precisa da nossa ajuda.

Manif 2