Crónicas

Arrancando... mas devagarinho!

As férias, pelo menos as minhas, não dão para muita coisa. Pensar é das coisas que mais faço

1. Disco: Muncie Girls, “Fixed Ideals”. A sério, vão ouvir isto. Mesmo que se estejam a marimbar para as minhas sugestões. Atrevo-me a dizer que será um dos discos do ano. Já há muito tempo que um álbum de estreia não me soava tão bem. E de passagem, dêem atenção à qualidade das letras que fazem da música dos Muncie Girls uma espécie de pop/rock de intervenção.

2. Livro: lido nas férias de um fôlego “Sete Homens em Guerra” de Marc Ferro. Mais um livro de história paralela que aborda um dos períodos mais importantes da história do século XX, a II Guerra Mundial, por intermédio da acção dos seus sete principais intervenientes.

3. Vai uma pessoa de férias, volta e continua tudo na mesma. Tem a vantagem de ficarmos com a sensação de que não perdemos nada enquanto andámos “por aí”. Mas, por outro lado, sobe uma frustração por concluirmos que foi tão só mais um mês perdido.

4. Aquela coisa que me bule com os nervos de as entidades regionais (Câmara e Governo) não se conseguirem sentar para resolver assuntos que a todos nós dizem respeito, afinal, é mal geral. Esta de o GR contratar uma empresa para renegociar os juros da dívida do PAEF com o Governo Central não lembra ao Diabo. Sempre achei que a política é também a arte do compromisso. Que o diálogo, a cedência, o entendimento, dela têm que fazer parte, uma vez que é do bem comum de que estamos a falar.

Entidades públicas precisarem de um intermediário para falarem e se entenderem, é ridículo. Seja essa ridicularia entre o Governo Regional e o da República, entre o GR e a Câmara do Funchal ou entre a CMF e a Junta de Freguesia do Monte.

5. Do Brasil, vemos votos de recuperação rápida a Jair Bolsonaro para que este possa continuar a sua campanha apelando à violência contra os negros, as mulheres, os gays, a favor da tortura e da morte, contra a democracia que muito bem lhe dá o direito de dizer o que quiser e bem entender, perorar a favor de um golpe militar, defender os salários diferenciados para homens e mulheres e que, estas últimas, só servem para procriar e deveriam ficar em casa. Contra a violência mais violência, é a solução para estas cabecinhas iluminadas.

Não sei porquê, mas fica-me uma enorme impressão de que tudo isto veio muito a propósito, de modo a beneficiar este fascista tornando-o num mártir.

6. As férias, pelo menos as minhas, não dão para muita coisa. Pensar é das coisas que mais faço. No Porto Santo, dentro de água, de preferência. Não gosto de me estender ao sol e areia só nos pés porque não há como o evitar. Nessas minhas cogitações cheguei à conclusão de que anda aí muita gente na política que não consegue perceber que ser regionalista é uma coisa e ser autonomista é outra completamente diferente.

Embora lá esteja o nome, a Madeira não é uma região, é muito mais do que isso, é uma autonomia. Reafirmo o que aqui já escrevi várias vezes: defendo uma autonomia progressiva e progressista cujos limites são os negócios estrangeiros e a representação do estado, a defesa, a justiça e a segurança interna. Tudo o resto deverá cair sobre a alçada da autonomia.

Quer então dizer que um autonomista não pode ser regionalista? Não só pode como deve. Se, em relação ao todo nacional, a Madeira deve ser autónoma, em relação ao centralismo da capital madeirense os que nela não habitam devem ser profundamente regionalistas. Ou seja um ribeira-bravense, um porto-santense, um machiqueiro, e por aí fora, devem entender o seu concelho sob uma perspectiva de região reivindicando competências administrativas e políticas que o regionalismo lhe pode dar. Trata-se, também aqui, de aplicar a subsidiariedade que defende que o que localmente pode ser resolvido assim o deve ser.

Tantas são as questões que vivemos em relação ao exterior que se replicam internamente. Não têm os habitantes do Arco de São Jorge e da Boaventura, por exemplo, problemas de mobilidade tanto nos custos como nas acessibilidades, tanto no transporte de pessoas como de mercadorias? Não temos uma enorme assimetria entre o sul da ilha da Madeira e o norte tão desprezado e a perder população de modo preocupante?

7. Emanuel Câmara, Paulo Cafôfo e Miguel Albuquerque juntaram-se para discutir o afundamento do Titanic.

Emanuel Câmara queria saber das “psauas”...

Paulo Cafôfo das “pessoas”...

E Miguel Albuquerque queria saber como é que a orquestra tinha conseguido tocar até ao fim!

8. Antanoaldo. É um nome que enrola na boca, sobe à cabeça e que depois leva a um débito vocal de asneiradas e coisas sem sentido. A renovação dos limites de vento do aeroporto da Madeira, a serem feitos, será um normativo, não uma obrigação. O Presidente Antonoaldo logo saberá se os cumpre ou não, se a companhia que dirige os vais respeitar ou não. Os limites de uma pista não têm que ser os mesmos que os limites de uma empresa. Isto é claro, isto é simples. Obviamente que o Antonoaldo vai querer que fique tudo como está. Servirá sempre como desculpa dos atrasos e dos cancelamentos de que a sua companhia, que também é metade de todos nós, é useira e vezeira.

A determinação será feita depois de concluído o estudo técnico. Agora não é preciso ser um Antonoaldo para entender que limites de vento numa pista há cinquenta anos, pista essa que foi renovada, desviou o eixo e é muito mais comprida, bem como atendendo aos avanços da tecnologia tando a bordo das aeronaves como em terra, não podem ser os mesmos que agora. Pelo menos é o que me diz o senso comum de quem trabalha num sector da segurança aérea, há 32 anos, no Aeroporto Cristiano Ronaldo.

E, a talho de foice, Antonoaldo módico era não teres vindo a público dizer as asneiras que disseste na entrevista ao Expresso.

9. Esta coisa das estatísticas do desemprego bule-me com os nervos. Será que podemos considerar empregada uma pessoa que tem um contrato em “part-time” que lhe permite trabalhar 3/4 horas por dia? Estará empregado um jovem que está a fazer um estágio profissional onde só lhe pagam os subsídios de refeição e transporte? Ou os que recebem uma pequena bolsa para frequentar uma qualquer acção de formação? E os que, pontualmente, fazem um pequeno trabalho a recibo verde?

É que, para efeitos estatísticos, estas pessoas contam como estando empregadas. Ou seja, os números do desemprego, tanto cá como lá, não passam de uma falácia!

10. “Ah! Se a vossa liberdade

Zelosamente guardais,

Como sois usurpadores

Da liberdade dos mais?”

Manuel Maria Barbosa du Bocage