Crónicas

A responsabilidade de escolher

Creio que chegamos a uma altura do nosso amadurecimento democrático que não nos podemos dar ao luxo de escolher pessoas por “dá cá aquela palha”. Aliás, não basta votar naquele que tem o sorriso mais meiguinho ou os olhos mais bonitos. Não vamos eleger a Barbie do ano, mas sim a pessoa que vai conduzir os destinos de uma Região

As movimentações estão aí à porta para o início da época que promete ser conturbada. Não estou a falar de futebol, mas de outro grande embate que se espera para 2019: o confronto entre dois candidatos à presidência do Governo Regional. A bipolarização do ato regional já está sem dúvida centrada em duas figuras de destaque.

O Diário de Notícias fez manchete, a semana passada, com uma sondagem que muitos podem considerar extemporânea, mas reveladora de muito mais do que as percentagens que foram apresentadas.

Mesmo sem saberem quais as ideias que vão nortear os programas eleitorais, muitas pessoas emitiram a sua preferência em relação a este ou àquele candidato.

Creio que chegamos a uma altura do nosso amadurecimento democrático que não nos podemos dar ao luxo de escolher pessoas por “dá cá aquela palha”.

Aliás, não basta votar naquele que tem o sorriso mais meiguinho ou os olhos mais bonitos. Não vamos eleger a Barbie do ano, mas sim a pessoa que vai conduzir os destinos de uma Região.

A responsabilidade de dar o voto a quem o pede, deve ter um valor muito mais elevado do que a superficialidade evidenciada até agora.

Independentemente de termos ou não um candidato fotogénico, com mais ou menos careca (ao ponto que isto chega!), ou se um é excelente no piano e outro no violino, o que importa mesmo é o seu intelecto e as suas capacidades.

Ninguém quer ser governado por uma estrela do mundo cor de rosa sem saber se a mesma tem ou não as armas necessárias para defender, aperfeiçoar e inovar em áreas tão fundamentais como a nossa qualidade de vida e o desenvolvimento da nossa Região.

Para depositarmos a nossa confiança em alguém que se acha capaz de nos liderar, há que exigir muito mais do que promessas vagas, sorrisos rasgados ou simples cartas de intenções.

Também não podemos cair no deslumbramento daqueles que, com maior ou menor popularidade, apontam o óbvio. Ou seja, é importante termos um candidato que sinta e entenda as aspirações da população, mas é igualmente crucial que ele seja capaz de apontar caminhos e soluções. Não basta contar histórias, dizer o que todos dizem, abanar a cabeça e remeter os apontamentos para um adjunto qualquer. Há que pegar em toda a informação recolhida, estudar profundamente os assuntos, munir-se de equipas competentes que não batem com a porta mês sim, mês sim senhor e estruturar as ideias.

Servir a causa pública não é um simples exercício de mediatismo e popularidade de quem acha que assim “sobe na vida”. Servir a causa pública é respeitar os valores que muitos, antes de nós, lutaram para que pudéssemos usufruir deles.

Servir a causa pública é ter a consciência de que é um eleito que deve, com humildade, ouvir as populações e decidir em prol das mesmas, apesar dos riscos que corre em ser um incompreendido, pois muitas vezes, decidir pelo Todo é muito diferente da ação de decidir apenas em prol de um indivíduo.

Ainda temos algum tempo para que qualquer um dos candidatos (e outros que possam surgir) se apresente devidamente preparado e mostre porque razão devemos confiar o nosso destino nas suas mãos.

Volto a insistir que a preparação envolve uma profunda auscultação e um conhecimento dos reais problemas e virtudes do povo que quer comandar. É ter não só uma visão inteligente para traçar as linhas orientadoras do seu programa, como também exibir uma demofilia despretensiosa.

E neste exercício responsável, é preciso ainda avaliar as respetivas caraterísticas e temperamentos políticos que foram maturados ao longo dos anos. É porque até agora e tal como escreveu Eça, «não sabemos se a mão que vamos abrir está ou não cheia de verdades. Sabemos que está cheia de negativas.»