Crónicas

A mensagem do Zé Pedro

Era da categoria dos bons. Um amigo dizia um dia que ele era dos poucos que ficava à porta a ver se ficávamos bem entregues e até essa altura ele não arrancava

Por vezes, quando olhamos para as pessoas que admiramos, com quem nos identificamos ou que temos particular apreço pelo seu sucesso profissional, sejam as que vemos recorrentemente na televisão, rádio ou jornais, temos a tendência de achar que todos são iguais na sua forma de estar e viver a vida. Não entendemos que são pessoas como todos nós com defeitos e virtudes, uns melhores outros piores, com características próprias e personalidades distintas. Assumimos provavelmente que o seu brilho profissional faz deles isto ou aquilo, por vezes pouco importa para nós passam a ser boas pessoas apenas e só porque admiramos a sua carreira. Mas a verdade é que como em tudo na vida os nossos ídolos também têm sentimentos, momentos bons e outros mais infelizes, respiram, vivem e morrem.

O Zé Pedro era um desses ícones. Fundador de uma das bandas de culto em Portugal , apelidados de ‘Pais do Rock português’, os Xutos e Pontapés eram mais do que música, eram uma experiência que nos acompanhava todos os dias. Mesmo sem eu ser um grande fã percebo a importância das letras que escreveram e do impulso que deram à música no nosso País, mas não só. Ajudaram-nos na emancipação enquanto povo e no acreditar nas nossas qualidades. Eram Pop Stars como as vemos lá fora, mas que faziam parte da realidade local. Isso transportava-nos para os seus exemplos a maneira como vestiam era copiada o cruzar dos braços bem alto era pura simbologia e sabíamos cada letra de cada música como se tivesse escrita por nós.

Mas este guitarrista de cabelo comprido e tiques de vedeta internacional era no seu íntimo uma pessoa bem especial. Era da categoria dos bons. Um amigo dizia um dia que ele era dos poucos que ficava à porta a ver se ficávamos bem entregues e até essa altura ele não arrancava. Era uma pessoa preocupada e amiga, era sorriso e loucura mas ao mesmo tempo paixão e ternura. Amigo dos seus amigos, generoso e sempre com uma palavra de apreço para com os jornalistas e os fãs. Dizia ele numa das suas últimas entrevistas que a vida ainda continuava a surpreendê-lo por causa do Amor. Que não existe nada mais importante nem mais profundo que esse sentimento e que é ele que nos transporta para aquilo que desejamos para amanhã.

Esse é o legado que o Zé Pedro nos deixa, essa é a mensagem que vem para lá da música que nos trespassa e nos ensina. Ela faz nos acreditar que às vezes andamos preocupados com coisas insignificantes na vida, mais interessados em chatear os outros do que em cultivar a nossa. Quando damos por nós perdemos o que mais simples e mais surpreendente ela nos pode dar. O amor, a amizade os momentos perfeitos os gestos que mudam o dia de alguém o toque, o carinho, a palavra de gratidão. Essa mensagem fica como uma marca de água na vida de um dos bons. O Zé não era apenas um grande música, era uma pessoa boa e os bons nunca sairão de nós.

“Quando te livrares do peso

Desse amor que não entendes

Vais sentir uma outra força

Como que uma falta imensa”

in Chuva Dissolvente - Xutos e Pontapés