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Realizar a Esperança!

Quando se inicia um novo ano, as 00h, todos acreditamos que o ano poderá ser diferente. Que os problemas que não resolvemos no passado, serão agora resolvidos e que as tristezas e infortúnios no ano que cessa dão lugar a alegrias que farão do ano que se inicia “O ano”. Ou pelo menos gostamos de pensar assim.

Assim, com um espírito renovado, entramos em Janeiro. Todos sabemos o peso e a magia que há no Natal madeirense. É um tempo em que as cidades por toda a ilha ganham outra cor. A nossa “festa” é de um mês, a iniciar nas missas do parte e a terminar no Santo Amaro. É um tempo sem igual.

Contudo 2018 em alguns dias já trouxe muitas novidades. O PSD nacional mudou de líder, para uma linha mais próxima à sua origem, e o PS-Madeira apostou as fichas todas numa jogada que tem tanto para correr bem como para ser desastrosa.

Se por um lado investe no político com maior peso na sua história eleitoral- Paulo Cafofo- que apesar de não ser militante inscrito, diz ser militante socialista uma espécie de “um faço parte só para o que corre bem”, por outro este investimento pode sair gorado numa eventualidade de a esquerda ser incapaz de conseguir um acordo parlamentar na ALRAM que sustente um governo não PSD- uma bagunçada à moda de Lisboa. Pois com a assunção da corrida regional “mata” aí politicamente pelo menos dois dos autarcas eleitos pelo PS ou com o seu apoio.

No entanto o que aqui quero enfatizar, não é a problemática do PS. Isso é lá com eles. O problema aqui é que há hoje uma procura desenfreada pelo poder. O PS candidata Cafofo a Presidente do Governo porque acha que com ele pode ganhar. Legítimo, apesar da falta de lealdade à palavra dada aos Funchalenses! Agora de que forma vai a Madeira melhorar? Ele enquanto Presidente de Câmara constrói um PDM que impede a construção do hospital naqueles terrenos.Ou de um tipo que promete uma polícia municipal e até hoje nunca mais se ouviu falar? Ou bolsas de estudo para os jovens? O quê? É preciso um procedimento concursal para fazer um regulamento quando os alunos de direito administrativo o fazem num exame do 2 ano do curso? É gente dessa que se precisa?

O problema é que isto não é só na Madeira. A nível internacional assistimos ao mesmo. Na Catalunha, o forte “líder independentista”- Charles puidgmont- fugiu de uma monarquia constitucional que considera indigna- e pela qual pede a independência em nome da pretensa maioria dos catalães- para se ir “enfiar” noutra. Para além do ridículo que é um líder separatista fugir do território que defende, há incoerência no seu raciocínio político por se ir refugiar num estado que tem o mesmo formato e condições do país do qual se quer desvincular. Fugisse o D. Pedro IV, primeiro imperador do Brasil, a seguir ao grito do Ipiranga para Cuba ou terras próximas, ainda o Neymar seria Português e seguramente tínhamos 5 campeonatos do mundo de futebol.

Permita-me o leitor concluir o seguinte: o problema não está em ter aspirações, o problema está em querer transformar os conceitos comuns para que as nossas convicções caibam naquilo que é o cânone e o politicamente correcto. No limite desta análise, será que faz sentido o Pai que tira o doce ao filho no Hospital, dar dinheiro e condições a este para ir comprar marijuana quando está doente? Isto é uma incongruência do Estado. Ou se continua a permitir os doces e legaliza a utilização da marijuana ou se é protector e tiramos tudo isso as pessoas.

Tudo isto considerado, não deixa de se constatar que vivemos numa sociedade que cada vez mais vive numa lógica de prevalência da forma sobre a substância material.

Isto só é possível numa sociedade relativista em que todos os meios-desde que formalmente bonitos- justificam os fins. E isso qualquer cidadão não pode aceitar. Urge de forma livre realizar a esperança, sem justiceiros ou doutores da verdade. A bem do presente mas acima de tudo do nosso futuro.