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Quem tem muita graxa, assa no espeto

Uma pessoa vai-se distraindo com estas conversas todas e quando se dá de conta já esta outra vez a meados do mês da festa! Isto com a idade parece que o tempo passa mais depressa... Ainda há dias andavam a falar em comprar o porco para a festa e já na semana passada começaram a metê-los na salgadeira.

Se forem todos como os do Coelho, que já tiraram o ermo no inicio do mês ,vai ser uma ano de pouca graxa (banha). Os porquinhos eram bem feitos e bonitos, tinham pouca gordura, estavam mesmo no ponto. Além disso estavam bem arranjados, limpinhos, branquinhos como um papel, parece que foram arranjados com água quente e chama (urze). Até dava gosto de ver!

Quando fomos ver os bichos, já pendurados no chambaril, no meio desta conversa de mais gordura, menos gordura, alguém diz para o dono:

- Este ano não vais vender banha para a padaria. De certo o padeiro vai ter de fazer os bolos de mel com banha de lata.

- Não há problema, eles ainda devem ter de há 2 anos. Levei-lhes quase 20 quilos! - responde o José.

- Ah, sim! - diz o Carlos - Lembro-me que tinhas um porco que era mais gordura que febra. Foi como diz o outro, deu tanta graxa que até deu para assares no espeto.

- Ai! Ai! Calma aí! Isso é conversa para ricos. O povo diz isso quando alguém não sabe o que faz ao dinheiro, não é o meu caso - responde o José. - Eu cá cuido dum porquinho para a festa e se ficar alguma, é para comer mais a família durante o ano, com couves e semilhas.

Os outros que ainda estavam a ver o porco e a beber um copo, não acompanharam a conversa. Quando se juntam começam logo a desconversar. Diz o Cambado:

- Isso de ter muita graxa é como tudo: ter muito dinheiro, ter muitas uvas... Quando há fartura dá para fazer loucuras e até desperdiçar.

- Não estou a perceber essa, diz o Carlos.

- Ah homem! Então não andam por aí a dizer que o governo comprou as uvas e não sabe o que fazer ao vinho? - responde o João.

- Pois - interrompe o Cambado - , eles cá de vez em quando têm muita graxa e vão assando na ponta do espeto, derretem todo nas brasas e não aproveitam nada. É isso das uvas, foi o cimento no Lugar de Baixo e agora dizem que é também no Paul da Serra. Até já ouvi dizer que vão secar a levada da Fajã de Ama.

- Não quero saber nada disso - diz o Gabicha. - Ò José deita mais um copo dessa mistura de americano com jaqué. Fizeste um vinhinho bonzinho, para espetada!

Boas festas para todos