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Procuro a minha Pátria!

Não sei como a perdi! Estávamos tão próximos, caminhávamos lado a lado. Talvez porque estivesse distraído. Talvez porque a tivesse como garantida. Aos poucos foi-se afastando e, de repente, deixei de a ver. Sempre julguei que estaríamos infinitamente ligados, pelo menos até ao fim dos meus dias, e que as raízes entrelaçadas entre nós resultariam na confusão entre ambos. Eu seria ela, e ela seria eu. Uma entidade singular, única, sem eu nem tu, apenas nós.

Um sonho alimentado em excesso pode exceder-se ao ponto de perder a ligação com a realidade e, com isso, a possibilidade de se concretizar. Terá sido isso que nos aconteceu? Terá sido isso que nos separou? Perdi-a porque me afastei dela, ou ter-se-á ela afastado de mim? Tê-la-ei reconstruído pelo sonho ao ponto de, agora, já não lhe reconhecer a realidade que sempre foi? Estará ela à minha beira sem que a encontre, porque já não a procuro, porque procuro algo distinto?

Será sempre mais fácil acreditar que a perdi. Acreditar que ela deambula por aí, à espera que a reencontre. Acreditar na sua esbelta figura, percorrida por vales e montanhas, acariciada por águas correntes, banhada pelo mar. Acreditar que nada a desfigurou, nem o tempo, nem a maldade, nem a ganância, nem a ignorância. Que o tempo percorrido sobre si apenas a amadureceu, dando-lhe experiência, ciência, conhecimento, compaixão. Acreditar que, ao virar daquela esquina, estará de braços abertos à minha espera, pronta para me acolher e expurgar este sentimento pária.

Procuro a minha Pátria! O regaço onde cresci e me alimentei. O futuro que vislumbrei desde o alto do seu colo. A suavidade da sua mão que acaricia e acalma os maus momentos, que concilia todos os saberes e todas as vontades, que cuida e cura os males orgânicos, mas também os espirituais, que reparte com equidade. O corpo que se estende sem rasgões nem espinhos, que se faz em sustento para quem dele vive, que não expulsa os que, por bem, se aproximam. Procuro a minha Pátria! Os braços que protegem quem mais está carente, que separam vontades que se destroem, e a nós com elas. Os longos cabelos que só se inflamam de exuberância e vida, e protegem todos os que neles se queiram aconchegar. Os olhos que não se vendam à justiça dos que se sentem embrulhados pela iniquidade, que estão atentos a cada um dos muitos atos impulsionados pela irracionalidade ou pelo corrompimento, que brotam lágrimas cristalinas que regam e saciam. Procuro a minha Pátria! A boca que educa num afável sopro, que chama pela razão quando dela nos estamos a apartar. Os ombros que se equilibram ante o nosso peso, que amortecem passos em falso, que nos carregam e atenuam as pegadas. A pele que deixa a natureza respirar, e transpirar, ao ritmo do batimento cardíaco da Terra. O beijo que acolhe e nos une em fraternidade, e sela um compromisso entre gerações para sustentar a vida. Procuro a minha Pátria!