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Praia do Porto Santo mal concessionada

As concessões para apoios de praia no Porto Santo estão a aumentar significativamente em tamanho e número durante os últimos anos. São uma consequência natural do desenvolvimento turístico da região, e até podem ser positivas se forem evitados erros cometidos noutras zonas do país, como no Algarve. O problema é que normalmente só se olha para o lado para ver o que nos interessa e esquecemo-nos de ver o que devemos evitar. Este ano, foram concessionadas novas zonas de praia em frente ao Luamar, em frente ao Bar do Henrique e em frente ao Hotel do Porto Santo. As concessões já existentes, como a que está em frente ao Hotel Vila Baleira e em frente ao Pestana Porto Santo e Pestana Colombos também tiveram um aumento no número de espreguiçadeiras dentro da área concessionada.

Estas concessões têm como objetivo a garantia da segurança dos banhistas na praia, permitem aos concessionários a possibilidade de alugar espreguiçadeiras e guarda-sóis, e isso garante-lhes a exclusividade do uso das zonas de sombra de colmo alugado pelos seus clientes. Isto quer dizer que em frente à zona de aluguer de espreguiçadeiras, os restantes banhistas podem estender a sua toalha, mas não podem entrar em concorrência com a concessão, abrindo o seu próprio guarda-sol. Fico muito satisfeito por não se terem lembrado de incluir no contrato de concessão o aluguer toalhas de praia, porque se assim fosse, os restantes banhistas seriam obrigados a se deitar diretamente na areia no caso de lhes apetecer ficar nessa zona, que como a maioria das zonas de costa marítima, ainda são do domínio público.

Mas a praia é grande, e sobra para todos os que escolhem o Porto Santo para veranear. Como se pretende dar algum ordenamento à própria praia, a Câmara do Porto Santo e o Governo Regional deveriam também ter em conta fatores como a capacidade de carga e a sustentabilidade da praia. Parece-me pouco ambicioso querer concessionar todas as zonas com acesso fácil à praia e esquecer as questões da sustentabilidade e da qualidade. Queremos ter uma praia no Porto Santo suja e coberta de guarda-sóis fixos e espreguiçadeiras até à linha do mar como muitas praias do sul do continente português? Queremos ter uma praia dourada quase deserta e exclusiva numas zonas, e sobrelotada noutras, com todas as consequências negativas a nível ambiental que esses desequilíbrios provocam?

É preciso ser mais inteligente com as concessões e exigir mais dos concessionários. Para isso, podiam começar por rever as zonas concessionadas para aumentar o intervalo entre elas ao longo dos 7 km de praia e incluir nos contratos obrigações a nível da limpeza da praia. Para que isso seja possível, antes de autorizar novas concessões, deviam começar por fazer novos acessos à praia com estacionamento, para evitar assim a conflitualidade entre os utentes dos espaços concessionados e não concessionados e por forma a promover um maior equilíbrio ao longo de toda a praia. O que está a acontecer é justamente o contrário. Estão a “encurtar” a praia à medida que vão limitando os seus acessos e aumentando a atribuição de concessões junto aos poucos acessos existentes, sem exigir nem fiscalizar a limpeza da zona concessionada. Resultado: Uma praia sobrelotada e suja nas zonas com acessos diretos.

Vejamos o exemplo entre a praia do Ribeiro Salgado e a Praia do Cabeço (em frente ao Hotel Vila Baleira). Nessa extensão, temos mais de 1,5 Km de praia sem acessos, quando no passado haviam pelo menos 3 ao longo da zona onde hoje foram edificados o Pestana Porto Santo e o Pestana Colombos. Ao retirar esses 3 acessos e ao concessionar os existentes, fazem com que as pessoas que não pretendem utilizar as infraestruturas da concessão, sejam obrigadas a andar 200 ou 300 metros com os filhos às costas para conseguirem arranjar um cantinho onde possam abrir o seu guarda-sol.

As autoridades competentes têm de perceber que a praia não pode estar acessível só para as pessoas que ignorantemente desconhecem as vantagens terapêuticas das areias do Porto Santo e por isso preferem estender a sua toalha em cima de uma espreguiçadeira. É necessário criar acessos para os outros visitantes do Porto Santo, que optam por não usar as espreguiçadeiras das concessões e que preferem levar o seu próprio guarda-sol para a praia.

A Praia do Porto Santo tem dimensão suficiente para todos, mas é necessário repensar os seus acessos e as suas concessões para não transformar uma praia que é única, numa praia igual a tantas outras, e para que esta não deixe nunca de ser a joia da coroa daquela linda Ilha Dourada.