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Porque hoje é Dia da Mulher!

Caros leitores e caras leitoras: Deixo-vos aqui, hoje, uma singela História de Vida de uma Mulher, simples e analfabeta, que sofreu as agruras de uma vida recheada de violência física e psicológica. Maria, nome fictício, casou com quase 31 anos, nos idos anos 60 do século passado, com um viúvo conhecido pelo seu “mau timbre”, lá na Freguesia. ‘Sujeitou-se’, como ela própria costumava dizer, porque a vida dura, de fome e necessidade, que levava em casa de sua mãe, também ela viúva com vários filhos, não era futuro que quisesse. Casou com o homem, criou os seus filhos, teve as suas crianças, “tão suas como as outras”, mas em vez de uma vida de estabilidade passou a ter uma vida de inferno. Quando o homem bebia, ‘perdia o juízo’ e eram frequentes os pontapés, os socos, as ameaças de morte com facas e foices debaixo do travesseiro onde dormiam. Fugia tantas noites de casa, com as crianças a tiracolo, para a casa de vizinhos, grutas e descampados para voltar a casa quando o homem já estava sóbrio. Ninguém ajudava porque “entre marido e mulher ninguém metia a colher”! Repetiam-se estes episódios, com uma ou outra variante, durante dias, semanas, meses e anos. “Tinha de conformar-se com a sua sorte” pois com crianças pequenas, sem sustento próprio e sem mecanismos sociais de protecção nada havia a fazer. Com sorte, muita sorte, Maria chegou a velha e sobreviveu ao marido. Outras suas amigas de infância não tiveram a mesma sorte: algumas sucumbiram às mãos dos agressores havendo relatos de que, alguns deles, permaneceram na impunidade. Homicidas impunes! Várias décadas se passaram, desde então, e, em pleno séc. XXI, pode parecer intolerável que situações destas ainda aconteçam na nossa Região e no nosso país. Mas acontecem! Ressalvadas as diferenças entre uma época e outra, estas histórias repetem-se com requintes de malvadez e inaceitáveis semelhanças. O machismo que fere, a intolerância que gera ódios, a discriminação que cria guetos e a violência de género, que maltrata e mata, são cancros que precisamos erradicar. Enquanto houver uma só história de violência contras as mulheres ou homens, contra as crianças, contra as pessoas de cor, contra as pessoas de diversas orientações sexuais e credos religiosos dias, como o que hoje se assinala, fazem todo o sentido. Porque a barbárie e a violência não pode avançar, temos que exigir mão dura da justiça contra os agressores e lembrar que a violência doméstica é crime público que é obrigatório denunciar. Não seja cúmplice:denuncie! E talvez ajude a salvar uma vida!