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Pelo menos não estraguem!

Nos tempos que correm, para entender a economia do nosso país, é fundamental olhar mais adiante e perceber o que se está a passar um pouco por todo o mundo. A crise na Turquia e na Argentina, as consequências das decisões do presidente dos Estados Unidos da América, o debate entre Bruxelas e Londres sobre o Brexit, as decisões orçamentais do novo governo Italiano, são questões que a Europa não se pode dissociar, e que Portugal não pode ignorar, por terem impactos importantes (positivos ou negativos) na nossa economia.

É por isso que vejo com alguma graça as declarações dos políticos de turno a se vangloriarem dos recentes dados macroeconómicos. Como se tudo aquilo fosse o reflexo das suas ações! Quando isso acontece, lembro-me sempre dos dez meses consecutivos em que Espanha esteve sem governo e que durante esses meses verificávamos o desemprego a descer e a atividade económica a retomar a sua força. Aliás, foram durante esses meses entre 2015 e 2016 que o PIB espanhol mais cresceu desde 2008. Lembro-me também dos 171 dias em que a Amanha, esteve com um governo de gestão sem que a locomotiva tivesse abrandado. Durante esses meses de 2010 e 2011, enquanto a Merkel andava a negociar com os restantes partidos, a economia Alemã continuou estável e inclusivamente verificou um novo record no superavit.

Não quero com isto dizer que poderíamos viver sem governos, mas considero excessivamente exagerada a forma como os sucessivos lideres governamentais se apoderam de resultados económicos cujas politicas adotadas e decisões tomadas ao longo do mandato pouco ou nada tiveram a ver com esse resultado. Os dois exemplos anteriores demonstram que a gestão do país pode viver bem durante algum tempo, enquanto os partidos tentam entrar em acordo para encontrar uma liderança estável, desde que os sistemas administrativos estejam sólidos e bem oleados. A simples gestão, quase tecnocrata dos diferentes sistemas, quando bem feita, já é suficiente para aproveitar o momentum sem o estragar e para deixar a economia seguir o seu rumo. Claro que a liderança é necessária, e até é essencial, pois toda a iniciativa coletiva necessita de uma liderança e por isso é impossível prescindir dos políticos.

O problema é quando a liderança é fraca e tem objetivos dúbios, definidos atabalhoadamente ao logo do caminho e manipulados pelas restantes forças politicas que de uma forma ou de outra vão ganhando poder de influência. O risco está mesmo aqui. Com um governo preso por fios, que me parecem cada vez mais frágeis, o perigo de uma derrapagem nos objetivos de dívida ganha nova força. Espero que não hajam surpresas pelo caminho que exponham as fragilidades da economia portuguesa e que estraguem as contas a António Costa. Como ele próprio disse, é importante não colocar em risco o que tanto custou a construir e não deitar por terra todos os sacrifícios de oito anos de austeridade. Por isso mesmo, um pouco de prudência nestes tempos de recuperação pode ser determinante na forma como o país irá sentir e viver uma nova crise financeira que se poderá estar a adivinhar.