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Os maus hábitos na habitação

Especular será um crime, descrito no dicionário penal português, ou europeu, ou mundial?

Sempre fomos um país “sui generis” no que se refere á habitação. Há 80 ou 90 anos, quem tinha posses económicas, programava a sua vida e organizava-a em redor duma habitação, que era construída de raiz ou então herdada, podia ser grande ou pequena, nela coabitando, uma, duas ou três gerações. Á volta desta, havia sempre espaço suficiente para uma horta e pomares, para criação de animais domésticos, servindo em exclusivo para a alimentação da família e deste modo se mantinha um aporte organizado em nutrientes para o dia a dia ... das famílias portuguesas. As pessoas com menos posses, tinham de construir, eles próprios, a sua casa, que podia crescer todos os anos, quando o crescimento da família assim o justificava. Assim surgiram casas, grandes, médias, pequenas, umas mais “ricas” que as outras, mas todas com avós, filhos e netos, organizadas á volta desta fórmula familiar, muito típica e saudável ... em larguíssimos aspectos. Havia também bairros sociais, habitacionais e estatais, de baixo preço, que seriam arrendados ás famílias mais carenciadas, mas com preços quase sempre congelados. Depois vieram os direitos, as garantias e os deveres - estes quase sempre em último lugar - e começou a haver maior desenvolvimento privado, individual, começou a surgir a construção de prédios, para venda e para aluguer ... quem queria comprar teria dinheiro disponível, quem não o tinha, alugava a preços, também mais ou menos congelados. Ainda mais tarde, vem a época da construção meteórica, uma fase de simbiose entre a política e a construção civil, com a banca bem colocada na sua rectaguarda, com montes de casas para vender, mas com muito poucas para alugar, pela continuada e persistente fórmula política, duma limitação para um arrendamento liberalizado. Nesta altura os arrendatários eram os verdadeiros “donos” das habitações por si arrendadas, podiam trespassá-las em caso de morte aos filhos e até aos netos ... não dando hipótese aos proprietários em reaver os seus próprios haveres. Ao mesmo tempo que, dispara a compra de casa própria, também favorecida pela natural vontade individual em ser dono de uma habitação ... revelando-se um “bum” gigante, talvez em demasia, com um crédito bancário, para ser paga até meio ou fim da vida ... provocando, além duma dívida longa, uma grande limitação na mobilidade das pessoas. Para se perceber este facto da mobilidade, mostro um exemplo fictício: - Sou engenheiro civil, vivo e adoro viver com a família em Braga, numa casa própria, comprada com crédito bancário por 35 anos, ... e de repente fico desempregado. A minha mulher é professora e os meus filhos estão ainda na escola primária. Súbitamente, tenho uma oportunidade de trabalho em Portimão, ... e agora ? ... família, casa, afinal, a minha vida toda em Braga ... e então, como desbloqueio tudo isto para poder ir viver para o Algarve?

Muito recentemente, nestes últimos 3 ou 4 anos, com a moda da “portugalidade”, com um país seguro, que ganhou o Europeu de futebol ... e agora o Europeu de Sub-19, um país hospitaleiro com uma população prazenteira, com imenso peixe fresco todo o ano, pescado num espaço marítimo invejável e a perder de vista ... apareceram uns políticos, advogados de profissão, para comercializar “vistos-gold”, e trazem para o rectângulo esta invasão de chineses, franceses, brasileiros, africanos dos PALOP`s, etc. E o valor das casas sobe! Em todo o lado do mundo, quando aumenta a procura, seja do que for, naturalmente aumenta a oferta e como consequência imediata, aumenta o valor daquilo que se quer comprar. Nada mais evidente e lógico! E quem faz a governação ... observa e recolhe os lucros dos “vistos-gold”, deixa o mercado funcionar nos arrendamentos ... porque já chega de congelamentos de rendas. Na realidade, já estamos há 44 anos dentro do comboio democrático ... não vamos continuar a oferecer peixe fresco, em vez de entregar uma cana para quem quiser pescar! E são os “canhotos”, cujo discurso é sempre virado para dar tudo de borla - mesmo a quem não merece, nem faz por merecer - a tentar limitar e bloquear o natural crescimento económico, dependente do investimento, da criatividade, das iniciativas e das novas realidades que o país atravessa. Especular será um crime, descrito no dicionário penal português, ou europeu, ou mundial? E quantos arrendatários, deste país rectangular com as suas ilhas adjacentes, fizeram sub-locação sistemática, arrendando quartos durante dezenas de anos, a milhares de estudantes e a um sem número de trabalhadores eventuais, rentabilizando a sua vida, cometendo uma grande ilegalidade em seu benefício económico?

Quem especula, corre sempre riscos, maiores ou menores, de acordo com o objectivo utilizado nesse acto do foro comercial e económico! Será que estou certo? Será que uma coloração política avermelhada, pode inibir alguém de pensar lógico, racional e correcto ? Sem comentário!

Os tempos mudaram, os maus hábitos têm de mudar! Os países com linhas políticas de esquerda que conheço no mundo, são dos mais reaccionários e castradores para as suas populações, condicionando ao milímetro a liberdade individual! Têm em mente quais são alguns deles? Cuba, Venezuela, União Soviética! São exemplos de que regime democrático?

Já fomos o país dos três efes, mas, há 44 anos deixámos de o ser! E não será 1/10 da população portuguesa, representada por meia dúzia de tribunos, formatados para discursos com promessas fáceis, que irá mudar o rumo natural de um país que se quer modernizar, com direitos, deveres, liberdades e garantias - todos e todas com o mesmo peso específico! Promessas, todas elas, que depois acabam por ser suportadas e garantidas por aqueles que pagam os impostos dentro do seu próprio país! E que são muito poucos!

P.S. Boas férias ... para quem merece!