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Obrigado e bem-vindos! venezuelanos!

Sou filho de emigrantes, chegado há mais de cinquenta e sete anos a esta nossa ilha. Não da Venezuela. Mas, para o caso, tanto se dá

Neste minha singela homenagem, incluo todos os nossos emigrantes, na Venezuela, na África do Sul, na Austrália, Estado Unidos, Canadá, etc, etc., que contribuíram muitíssimo, durante extensos e largos anos, para uma melhoria nas condições de vida dos seus conterrâneos que não arriscaram sair.

Antes de continuar, devo dizer que sou filho de emigrantes, chegado há mais de cinquenta e sete anos a esta nossa ilha. Não da Venezuela. Mas, para o caso, tanto se dá. Foi aqui, em Portugal, que estudei desde criança, cumpri o serviço militar obrigatório e trabalhei.

Posto isto, vamos aos factos.

Há dias, num estabelecimento público de saúde, fui precedido por alguém que pretendia ver satisfeitos os seus objectivos na aquisição dos serviços. A utente foi informada que o regime de que beneficiava era especial e, por isso, o circuito deveria ser outro e não o apresentado.

- Deem tudo aos venezuelanos! – respondeu ela a esta informação.

Pensei duas vezes se deveria o não explicar que os venezuelanos não lhe tinham tirado nada. E, tempos houve, em que muito contribuíram para uma melhoria de muitas famílias madeirenses. Calei-me e fiquei a matutar em como se esquece facilmente o passado e se acusa os que menos culpa têm num processo em que pouco ou nada intervieram.

Eu poderia ter afirmado que o regime especial de que ela beneficiava era um resquício de tratamentos especiais de alguns. Poderia ter-lhe dito que as exigências burocráticas impostas a quem tinha o regime especial tinha sido produto dos nossos governantes escolhidos por ela e pelos que não emigraram. E foram os mesmos governantes que reconheceram que a solidariedade de antanho deve ser retribuída, hoje, porque se inverteram as situações.

Mas, sobretudo, poderia ter-lhe lembrado as difíceis décadas de 60 e 70 do século passado (porque foram as que aqui conheci), em que as cartas dos nossos emigrantes provenientes das paragens mais longínquas como a Venezuela, eram autênticos refrigérios físicos e morais, para muitas famílias, porque, além das notícias, também traziam cheques e notas de dólares. Muitos...

Só que a solidariedade doutros tempos, para estes novos riquinhos e de palas nos olhos de hoje, são água que não move moinhos.

A memória curta! E a ingratidão é grande!

Enfim, esperemos que a Venezuela se torne um país próspero, porque tem todas as condições para o ser e que, nessa altura, os nossos emigrantes se esqueçam destas ingratas atitudes.