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O tempo da pós-verdade - O Urban, o Padre e os que andam por aí

Está a fazer 1 ano que o mundo político ocidental abalou. Muitos dos analistas e dos comentadores políticos verificaram, a 8/11/2016, que as eleições decidem-se nas urnas. Por muitas polémicas, histórias e eventos dignos de um “reallity show” Donald J. Trump venceu as eleições americanas e foi eleito do Presidente dos EUA.

Sem dúvida que a vitória de Trump começou a alertar as pessoas para um fenómeno político que já se vive há muito tempo: a era da pós-verdade. Este conceito político filosófico mais não é do que dar mais ênfase às emoções e as crenças pessoais do que ao conteúdo dos factos alegados.

Parece-me importante analisar esta questão. Se tivermos em consideração que a cada conduta corresponde um acto, ou um conjunto de efeitos por ele despontados, estamos perante uma grande ameaça aos tempos modernos. Isto porque através da comunicação social tradicional, dos “media influencers” e das redes sociais vamos criar um mundo virtual cada vez mais afastado da realidade.

E há exemplos recentes deste fenómeno. A polémica em torno da discoteca Urban Beach em Lisboa levou mais gente a criticar o espaço de diversão nocturna, as suas práticas e quem a frequenta do que a empresa privada de segurança, entidade patronal daqueles “selvagens” que agrediram aquele cliente.

Mais próximo de nós, temos o caso do Padre Giselo. Apesar da verticalidade e coragem que o caracterizam- demonstrada pela assunção da paternidade da criança- não deixa de ser verdade que o Senhor Padre errou à luz do compromisso da lei canónica. Aquilo que se discutiria numa situação normal eram as consequências da acção do Padre. Aquilo que andamos a fazer é discutir se deve haver esta limitação do direito canónico ou não.

Tento transmitir com estes dois exemplos um dado simples. É que independentemente das intenções dos Homens devemos atender à factualidade material das circunstâncias. Se assim não for, faremos da vida em sociedade algo tremendamente subjectivo que acabará por colidir com a harmonia e tolerância. A pessoalização da vivência quotidiana fará com que os Homens se agigantem perante as instituições e as destrua. O que valerá deixará de ser o prestígio, a história ou o património social, político ou cultural destas, mas sim o tamanho da popularidade, egos e da sobranceria de quem as dirige.

E se virmos bem, isso já afecta as nossas instituições.