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O galo para o padrinho

Mesmo com as novas facilidades de comunicação e todas as tecnologias que por aí andam, há tradições que ainda vão resistindo, ou pelo menos alguns que vão tentando mantê-las ou adaptá-las à atualidade.

Está incluído nesse role, por exemplo, o fim das festas de natal, o desmanchar da lapinha ou retirar a gambiarra e o pinheirinho. Há zonas em que essas tarefas são efetuadas nos dias de reis, noutras prolonga-se um pouco mais e a festa vai até ao Santo Amaro (dizem que é o dia de varrer os armários). Mas aqui pelo Norte, há paroquias em que a coisa dura ainda mais uns dias. Manda a tradição que só depois das festas em honra do Senhor São Vicente (22 de janeiro) se guarde o Menino Jesus e pastorinhos.

Até porque, entre o dia de Santo Amaro e o São Vicente, ainda há as novenas em honra deste, que muitas vezes são seguidas de convívios interessantes.

Mas nestes dias depois da Festa, durante as visitas às lapinhas, veio à conversa os presentes que o Menino Jesus punha no sapatinho e o espertalhão do filho do Carlos disse logo:

- Não é nada disso! É a mãe que compra! O Pai Natal não existe, é só fingido.

- Pois é - diz o pai. - No meu tempo, quando tinha a tua idade, só havia o Menino Jesus.

- Estás a ver como tenho razão? - diz o pequeno. - Então o Pai Natal é mais novo do que tu!

- Lembro-me de um dia em que tive um vergasto no sapatinho. Nunca me esqueço! Era uma vide... Tudo porque tinha andado à porrada na escola. Mas junto tinha doces de funcho e caramelos.

- Pois é - diz o José. - Isto agora é diferente. Nem o padrinho tem direito ao galo para a Festa.

- Essa não sei - atirou alguém.

- Então, - explica o José - mandava tradição que o afilhado, nas vésperas de Festa, fosse a casa do padrinho desejar as boas festas e oferecer um galo grande e gordo e, em troca, normalmente recebia uma moeda.

- Ahhh! Mas eu este ano fiz diferente - diz o José. - Em vez de mandar os pequenos levar o galo, até porque o compadre agora mora num apartamento na cidade, e não tem onde arranjá-lo, quando ele veio à minha casa ofereci-lhe um cesto com batatas da barbiça, tomates, agriões, cenouras e ..

- Estás a brincar?! - questiona o Carlos.

- Foi sim! E não é que a comadre estimou? Olha, fartou-se de me agradecer! Há que se adaptar e evoluir. Não há galo e a batata doce está na moda, lá vai disto. Além disso tive muitas este ano. E, já sei, para o ano vou fazer igual. Já plantei a rama.