Reza a história que o miúdo, levado pela mão do pai, subiu a derradeira colina e finalmente, pela primeira vez na vida, viu o mar em toda a sua plenitude. Apertando a mão com mais força, mas sem tirar os olhos do imenso azul, disse: “Pai, ajuda-me a olhar... sozinho, não consigo!”

Foi como esta criança que me senti, quando nos anos noventa, me apresentaram o universo da psicologia do desporto, dessa feita, pela mão do Professor Doutor Sidónio Serpa. De facto, essa terá sido, quiçá, a ferramenta menos visível, mas que mais relevo teve, no salto qualitativo que se verificou na equipa Olímpica de vela de Portugal, no ciclo para Atlanta 96. De uma equipa sem qualquer expressão no panorama mundial da vela, em quatro anos, passou a ser uma referência, sendo que a expressão máxima dessa evolução, traduziu-se na conquista de diversos títulos Europeus, Mundiais e uma medalha Olímpica, nas diversas classes que compõem o programa Olímpico.

Contrariamente à crença que persiste em muitos sectores do movimento desportivo, a psicologia no desporto não visa apenas e tão só resolver problemas do foro psicológico, embora essa seja uma das suas valências. Do ponto de vista da minha experiência pessoal, no seu âmago, procura que um indivíduo possa exprimir todo o seu potencial num contexto desportivo. Parece-me claro no entanto, que o maior desafio, é o de precisamente ultrapassar-se num ambiente sobrecarregado de emoções, como é normalmente aquele que se encontra num evento competitivo.

Medo, ansiedade, dúvida, falta de confiança, quem não as sentiu alguma vez na vida? Desportista ou não, creio que serão sentimentos muito comuns no dia a dia de qualquer ser humano. Mais do que me ensinar a ultrapassar essas emoções, não permitindo que as mesmas tivessem um efeito bloqueador na performance desportiva, a psicologia no desporto criou as bases para um auto conhecimento mais profundo. Porque é que esses sentimentos surgem? Qual a origem dos mesmos? Qual a sua raiz? De onde vêm?

O livro que Sidónio Serpa se prepara para lançar, cujo título inspirou esta crónica e o seu título, fez-me rever todo um processo de décadas, que me levou a um estado de maior equanimidade em relação ao fenómeno desportivo, suas derrotas e sucessos. E cuja leitura aconselho, a todos os que se interessam por estas matérias.