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O circo

Sempre achei um erro a construção de destinos baseada naquilo que interessa ao turista, no que pode ou não incomodá-lo, descurando os locais, aqueles que habitam esses sítios e lhes dão vida.

É por isso também que não compreendo quando orgânicas camarárias apresentam o Turismo como pelouro de alguém. Se estas fizerem o seu trabalho, que basicamente significa tomar conta do produto, o trabalho turístico está feito por consequência.

Assim se criam produtos bem estruturados, sustentáveis e consistentes, porque pensados para as pessoas que os habitam. Ganham uma personalidade diferente e essa é uma enorme mais-valia, bem superior a outras questões menores que são hipervalorizadas, sobretudo porque ninguém se dá ao trabalho de medir o respectivo retorno.

Por pensar isto, fiquei absolutamente chocado quando vi plantado um circo na Praça do Povo. É que nem queria acreditar em tamanha aberração! Resolvi logo a questão do tema do dispêndio mensal de caracteres e sem destinatário concreto, pois não quis ir ver quem teria dado autorização aquela coisa.

Já não gostava da bendita praça, como em tempos aqui escrevi, procurando explicar porque o dizia. Como ninguém leu, relembro: - não faz sentido absolutamente nenhum criar passeios largos e praças enormes do lado contrário a onde se encontra o comércio, convidando as pessoas a circular por onde não vão gastar dinheiro mas essa deve ser uma questão menor porque um qualquer subsídio deve vir a caminho, para resolver o problema...

Agora, para melhorar a coisa, ainda plantam o tal circo, mesmo ali à beira-mar, para que os visitantes que nos chegam de cruzeiro levem logo com essa imagem convidativa desse indubitável factor distintivo, marco da nossa cultura e do nosso povo. É uma pena terem lá proibido animais; seria o remate final apropriado para o destino de excelência cujo macro produto é, diz-se, a Natureza.

Não tenho qualquer dúvida dos argumentos pró-circo utilizados, que devem ir desde os saudosistas do dito no Almirante Reis até aos que vão falar nas vantagens da proximidade ao centro, evitando-se os custos de transporte.

O pior é tudo o resto, sobretudo para nós, locais, que por ali temos de passar e de levar com aquela feira que concorre com quem, o resto do ano, anda a pagar impostos e licenças e taxas e contribuições.

Boas Festas!