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Monte de tristeza, de angústia e de intriga palaciana

Durante este tempo, cada um esperou que o outro fizesse. Passado este tempo, ninguém fez.

15 de agosto de 2017, freguesia do Monte, Largo da Fonte, junto ao Fontanário de Nossa Senhora, morreram 13 pessoas. Estavam no local, movidas pela fé.

Desde o dia 5 de agosto de 2018, a celebração religiosa em honra a Nossa Senhora do Monte tem acontecido, com o empenho habitual das comissões organizadoras de cada novena, porque a dimensão da fé é grande.

Quanto à festa profana? A festa própria de um arraial tipicamente madeirense? Essa não tem acontecido e dificilmente acontecerá na véspera do Monte, com a alegria da festa, pelo menos para quem tem um bom coração.

Achar-se que há condições para um arraial do Monte em 2018, “dentro da normalidade” é duma crueldade humana suscetível de agravar os sentimentos de dor e de tristeza, de quem perdeu os seus, naquele fatídico dia.

Com efeito, o enredo apossou-se dos mínimos do bom senso em torno desta tragédia, agravando-se nas últimas semanas, a falta de respeito pela memória dos que partiram.

Toda a componente processual de imputação de responsabilidade criminal corre termos nas instâncias competentes, com as morosidades próprias de um processo com esta complexidade, que não são compatíveis com os estados de alma de quem diretamente sofreu – e sofre – com a tragédia.

O julgamento popular tem sido feito ao longo destes 12 meses porque além da falta de resposta da Justiça, a falta de resposta das entidades competentes na gestão do local – Câmara Municipal ao que parece - levou a sentenciar possíveis culpados.

Não obstante, achar-se que um qualquer governante – independentemente da sua cor política - seja presidente duma câmara, presidente duma junta de freguesia, vereador com pelouro ou sem pelouro na matéria – achar-se que alguma vez, este responsável político desejou e colocou nos seus objetivos de mandato que uma árvore ou um galho duma árvore tombasse e matasse, num determinado local a uma determinada hora, é no mínimo viver no quadrado.

Mas tal, não o pode eximir da responsabilidade de exercício de cargo, pelo menos, criar condições para serenar a vontade popular de forma fundamentada, o que se esperava no caso concreto, logo em agosto de 2017.

Pelo contrário, durante estes meses vivemos as incertezas do que seria o destino do Largo da Fonte. Corta árvores? Não corta árvores? Há segurança? Não há segurança?

As incertezas da intervenção no Largo da Fonte, fazem com que não haja serenidade, nem sentimento de segurança, e com a proximidade das festividades, o clima de insatisfação adensou-se.

O assunto é tão sério e tão triste, que permite dizer, durante este tempo todos esperaram que alguém fizesse alguma coisa. Durante este tempo, cada um esperou que o outro fizesse. Passado este tempo, ninguém fez.

E é com total desprendimento de qualquer veia partidária que deixo o meu pensamento sobre este assunto. Deixo-o em consciência pela necessidade das “vontades populares” também respeitarem o sentimento de perda e de dor. Deixo-o com o sentimento de pesar às famílias que em 2017 viveram a tristeza dos acontecimentos na primeira pessoa, e que infelizmente, em 2018 terão na memória essa dor inultrapassável, que todos nós devemos respeitar.