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Longos dias têm quatro anos

Agora, enquanto a dança das cadeiras joga-se noutras paragens, tomemos o mandato

Era 1996 e um grupo de universitários reunia-se em círculo no pequeno relvado a tardoz da “Secção de Folhas” do Instituto Superior Técnico (IST). O início de estação outonal tomava Lisboa no seu modo clássico, com manhãs gélidas e brumosas e em que o vento, longe de ser um fenómeno de tortura aeroportuária, assobiava na recém-construída Torre Norte, enquanto desnudava as árvores, colorindo o solo com a sua folhagem. Eu, então no terceiro ano do curso de Engenharia Electrotécnica e de Computadores, era um dos presentes na reunião.

O IST estreava um programa de mentorado que visava a integração dos estudandes na comunidade académica e a minha apetência natural para desmistificar alguns adamastores mentais erigidos entre os caloiros à condição de mitos, fez-me voluntariar para assumir esse pioneiro papel de mentor. Entre as funções prescritas incluía-se a promoção da adaptação à capital aos não residentes, através de cirúrgicas incursões noctívagas a custos controlados, onde a “Casa da Madeira” era ponto de passagem obrigatório, e a suavização da transição para a exigente vida académica da mais conceituada instituição de Engenharia de Portugal. Para o efeito também não eram negligenciadas as tradições académicas como a de celebrar a licenciatura ao som de um foguete por cada ano de curso, habilmente lançados pelo Sr. Carvalhosa, ou o aconselhamento psicotécnico do “Nabunda”, cão-mascote e guia-espiritual do campus.

Foi um semestre inteiro onde se estabeleceram laços de confiança entre os elementos de um grupo de pessoas eclético, numa aprendizagem mútua e simbiótica, que permitiu a ultrapassagem de obstáculos de várias índoles enquanto todos andávamos com a preocupação à volta das cadeiras, nomeadamente as “Análises Matemáticas”.

Lembrei-me deste episódio durante o período eleitoral que há pouco terminou com a vitória do projecto que orgulhosamente integro. Uma conquista da cidade do Funchal, fruto do reconhecimento pelos funchalenses de que a seriedade e o pensamento propositivo sobrepõem-se às exasperantes campanhas sujas e premiando o trabalho efectuado nos últimos quatro anos apesar do difícil contexto financeiro e político que pairava sobre a CMF.

Nesta campanha eleitoral tive a oportunidade de acompanhar um grupo de homens e mulheres com a mente esvaziada de impossíveis e a alma cheia de confiança, calcorreando o Funchal de alto a baixo, transmitindo uma mensagem positiva e apresentando o caminho do futuro. Uma equipa dinâmica, composta por profissionais de diversas áreas, que se entregaram à causa nobre de defender um projecto comum para a sua cidade sem esperar nada em troca. Pessoas competentes que, imunes a pressões sociais e profissionais, quebraram mitos anti-democráticos e hastearam alto a bandeira da liberdade, dedicando-se de coração aberto a uma cidadania interventiva. Foi um prazer caminhar a seu lado e é uma honra maior poder recebê-los na política, na certeza de que, independentemente do papel que o presente lhes reserva, o futuro é indubitavelmente promissor.

Agora, enquanto a dança das cadeiras joga-se noutras paragens, tomemos o mandato que nos foi investido pelos funchalenses, arregacemos as mangas e regressemos ao trabalho com a mesma responsabilidade de sempre. Um mandato, qual percurso académico, passa num ápice e, estivéssemos no IST, não tardariam a soar mais 4 foguetes lançados pelo Sr. Carvalhosa. Continuemos juntos, com Confiança. 2021 começa hoje.