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João Rodrigues, apresento-te a Lola

Passagem rápida pelas notícias de manhã. Olhos no telemóvel, ouvidos na televisão. Leio que os alunos do 1º ciclo não sabem saltar à corda, nem dar cambalhotas. Saltar à corda, não sei, mas penso que cambalhotas vão aprender depois de grandes. Conheço tantos na minha vida profissional que aprenderam a dá-las e não querem outra coisa.

Depois, a distinção mais do que merecida do João, o nosso João, pelo Presidente da República, pelos seus feitos desportivos. Sobretudo por ser o Olímpico dos Olímpicos portugueses. Tardou. Mas chegou. Um percurso brilhante que o fez ser herói de tantos miúdos, antes do pequeno de Santo António ter levado os pais a correrem com os seus miúdos para as camadas jovens dos clubes com esperança de fabricarem estrelas.

A constatação de que os alunos do 2º Ciclo não sabem assinalar Portugal no mapa, depois de terem unido a História à Geografia numa cadeira que só tem o segundo nome porque é preciso localizar os acontecimentos históricos, segundo os entendidos e eu acredito.

Os ouvidos, entretanto, desviam a minha atenção para a ministra do Simplex, na SicNotícias, nove da manhã, toda contente a falar da Lola. Não é uma miúda que quer aprender vela, nem tão pouco sabe de geografia. Nunca vai saltar à corda, nem aprender a dar cambalhotas, mas vai trabalhar desde o momento do nascimento. E se reformar daqui a muitos anos, sem qualquer custo para o Estado. Não vai estar mal disposta no atendimento, mas também não vai adoecer, nem ser mãe. Não fica cansada. Se ficar, é só trocar uns fusíveis, apertar uns parafusos, olear umas juntas. Quero conhecê-la. Sempre quis conhecer robots que substituem pessoas, que tiram a dignidade aos milhares de desempregados que se sentem inúteis com o que sabem e o que aprenderam ao longo da vida. A Lola vai depois ter muitas irmãs para indicar onde fica o balcão 1 ou onde tirar a senha A nas lojas do cidadão deste país. O lema da campanha é “Parece Magia mas é o Simplex”.

Não sei se a queres conhecer, João. Num momento em que levas as crianças ao mar, que lhes ensinas a prática da modalidade a que dedicaste uma vida, que queres deixar o teu incomparável legado na História sem geografia anexada, queria apresentar-te a Lola, para pedir-te que a coloques em cima de uma prancha, a vires para sul e ordenes que encontre a loja do cidadão mais próxima.

Continua a ser quem és, com comendas ou sem elas. Não deve haver nada mais compensador do que ensinar vela, cambalhotas ou saltar à corda, mesmo que o Estado ande a dar emprego a robots. Só não o digas aos miúdos, peço-te. Estragas a magia.