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Indignação “à la carte”

A capacidade de nos indignarmos, é para a generalidade dos madeirenses um exercício raro. Não me reporto evidentemente à indignação ocorrida na esplanada do café, nos encontros de amigos e familiares do nosso “inner-circle”. Falo da indignação pública, com nome e face destapada, quer no sofá das redes sociais, ou nas manifestações, onde também um grupo de profissionais da política de protesto, marcam quase sempre presença de modo a “picar o ponto” da agenda do seu referencial doutrinário do berreiro estridente. E hoje é tão fácil encontrarmos “exércitos” de indignados, quando há apenas uma década na Madeira, gente como Gil Canha, Eduardo Welsh, Baltasar Aguiar, António Fontes, Dionísio Andrade, José Manuel Coelho, Hélder Spínola etc, constituíam um oásis da indignação (não-convencional) num regime musculado e que abriram caminho no silvado do silêncio cobarde, e do “modus operandi” do politicamente correcto, para que outros agora, se espojem sobre o chão aveludado a arrotar epopeias de hérois plastificados.

Há semanas no Funchal ocorreu um evento denominado “Funchal Pride” enquanto iniciativa de orgulho LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e intersexuais) na Madeira, com o apoio de várias entidades civis, com participação “profissionalizada” do BE e com o suporte institucional da Câmara Municipal do Funchal, que não perde qualquer hipótese de fazer um título de jornal, ainda para mais, sob um belo e reluzente arco-íris.

Passadas poucas semanas, houve uma manifestação civil replicada um pouco por todo o país, no contexto dos mortíferos incêndios, denominada “Portugal Contra os Incêndios”, mas, cá na Madeira, foram muito poucos os que se juntaram a esta iniciativa, e nem sequer os habituais profissionais de esquerda tão solícitos em manifestações com palavras de ordem e protesto, “emprestaram” qualquer indignação no evento. Pianinho. Ninguém os viu, nem com a cabecinha de fora como a lagartixa.

Da mesma forma que da tragédia do Monte em Agosto com treze mortos às costas, ainda não se ouviu um “pedido de desculpas” (daquela contrição com que Marcelo Rebelo de Sousa obrigou António Costa a se retratar, após as primeiras palavras sonsas do Primeiro-Ministro, aliás, tão sonsas com as de Cafôfo na tarde do dia 15 de Agosto). Mas, cá regresso à minha primeira frase escrita ali em cima da rara indignação. Há um enunciado que facilmente depreendemos dos “trágicos” Costa e Cafôfo: Costa está para os incêndios, como Cafôfo está para a queda da árvore. As primeiras reacções de ambos os “estadistas” estão ensopadas numa cultura de desculpabilização. Isto para não referir que os treze mortos do Monte, não têm o mesmo eco mediático das mais de cem vítimas do continente. Afinal foi apenas um carvalho e não um plátano que sucumbiu duma parcela de terreno de “Marte”, com a agravante indesculpável duma inércia inicial do Ministério Público, que deveria também nos pedir desculpa e ser igualmente escrutinado sem o escudo do corporativismo. Porque foi indigno!